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Os detalhes da operação de prisão na África do barão da cocaína do PCC

Chefe de narcóticos da PF comemora prisão de Fuminho, o traficante mais procurado do Brasil e apontado como principal fornecedor de drogas do PCC

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 abr 2020, 22h26 - Publicado em 20 abr 2020, 18h17
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  • “Foi uma grande vitória”. Desta forma o delegado Elvis Secco, chefe da divisão de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da Polícia Federal, descreveu a prisão de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho. Foragido há mais de vinte anos, Fuminho foi extraditado no domingo, 19, de Moçambique ao Brasil, onde agora está encarcerado no presídio de segurança máxima de Cantanduvas, no interior do Paraná. Amigo e “sócio” de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, desde os anos 90, quando fugiram juntos do Carandiru, Fuminho estava no topo da lista de procurados da PF e é descrito como um dos maiores narcotraficantes da atualidade.

    “Pode ter certeza que é o começo da derrocada dessa facção criminosa [o PCC]. É claro que haverá uma reposição, mas de um golpe desses demora um tempo para se recuperar”, afirmou o delegado a VEJA. “O crime organizado sentiu o baque. Eles perderam o seu maior fornecedor de cocaína, com capacidade financeira para arquitetar planos de fuga da prisão e movimentar armamentos e milhões de dólares. São 20 anos traficando cocaína para o mundo todo”, acrescentou Secco.

    O delegado também frisou que as autoridades estão em alerta para uma eventual reação no crime organizado à prisão dele. O motivo não é despropositado. Conforme investigações do Ministério Público e da Polícia Civil de São Paulo, Fuminho esteve por trás de dois planos de fuga de Marcola, que acabaram não se concretizando. Eles envolviam até a contratação de mercenários, aeronaves e armas capazes de derrubar helicópteros. Fuminho é apontado ainda como o mentor do assassinato de dois chefes do PCC, Rogério Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Souza, o Paca – a acusação de ser o mandante da morte da dupla lhe rendeu um mandado de prisão expedido em fevereiro de 2018 pela Justiça brasileira.

    Na época, as execuções desencadearam uma crise interna dentro do PCC, que teria levado Fuminho a ser “decretado” (no linguajar do crime, jurado de morte). A sua proximidade com Marcola e a suspeita de que Gegê e Paca estariam desviando dinheiro da facção acabaram invalidando o “decreto”. Mesmo assim, em março de 2018, ele decidiu mudar a sua base de operação para a África do Sul – investigações policiais indicavam que até então o seu QG era na Bolívia, o país que mais produz cocaína no mundo e onde ele era proprietário de fazendas, segundo apurações policiais.

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    “Não se tratou de uma fuga. Ele foi para fazer negócios na África”, ressalta o delegado. Segundo ele, Fuminho atuava em todas as pontas do tráfico de drogas – desde o contato com os fornecedores na América do Sul aos compradores na África e Europa. “Ele tinha uma capilaridade enorme para atuar em todas as fases do esquema, assim como tinha articulação com toda a gama de criminosos e com os responsáveis pela lavagem de dinheiro”, diz Secco. A PF identificou algumas empresas de importação e exportação que ele gerenciava do continente africano e seria usadas para a logística da droga. Os portos africanos são um ponto importante de parada de cargueiros que se dirigem à Europa e a Ásia.

    A captura de Fuminho exigiu meses de verificação de dados alfandegários e quase foi frustrada pela crise do coronavírus, que atingiu todo os continentes do globo. Primeiro, ao rastrear um passaporte brasileiro emitido na Bolívia, os agentes chegaram ao nome falso que Fuminho utilizava – Luiz de Lima. Com o documento, o investigado embarcou em Buenos Aires para Joanesburgo em março de 2018. O próximo passo foi identificar brasileiros que poderiam ter proximidade com ele e iam com frequência à África do Sul. “Achamos algumas pessoas indo de 4 a 6 vezes por ano para lá, o que não é normal”, explica o delegado. Seguindo esses alvos, a PF chegou ao endereço onde ele morava na Cidade do Cabo, uma mansão à beira-mar. Paralelamente, as autoridades brasileiras correram para conseguir, em segredo, a extradição e um mandado de prisão internacional contra ele.

    O “sócio” do PCC não tinha só negócios na África do Sul, mas também na vizinha Moçambique. Foi para a capital do país, Maputo, que ele viajou em março. Foi escondido de carro, sem passar pelos controles alfandegários. O que ele não contava é que viria a crise do coronavírus e parte das fronteiras do continente africano seriam fechadas. A pandemia também atrapalhou os planos da Polícia Federal, que não pôde mandar uma equipe ao país para prendê-lo. A Pf acionou, então, o departamento de narcóticos norte-americano (DEA), que, com a ajuda da polícia moçambicana, prendeu o “barão da droga”, conforme ele foi chamado pelo porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal de Moçambique, Leonardo Simbine.

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    No momento da prisão, ele foi pego com quinze celulares, cerca de 4.000 reais e 100 gramas de maconha – valores insignificantes se comparados com as toneladas de cocaína e milhões de reais dos quais é acusado de movimentar. A entrada ilegal em Moçambique e o porte da droga, no entanto, foram a condição perfeita para que ele fosse expulso do país em menos de uma semana – um processo de extradição na Justiça levaria meses.

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    Para trazê-lo ao Brasil, uma megaoperação foi montada às pressas – e em sigilo – neste fim de semana, com direito a jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB), um helicóptero e cinco viaturas. Desta vez, o governo brasileiro decidiu mantê-lo longe de Brasília – onde estão encarcerados em um presídio federal Marcola,  Sergio de Arruda Quintiliano, o Minotauro (ex-c do tráfico na fronteira Brasil-Paraguai) e Nicola Assisi, um mafioso italiano da Ndrangheta. O local escolhido foi a penitenciária federal de Cantanduvas.

    O delegado Elvis Secco, que em 2017 comandou a operação que capturou o megatraficante Luiz da Rocha, o Cabeça Branca, frisou que a prisão é resultado de um maior foco da PF em acordos de cooperação internacional e no expertise de crimes financeiros – as mesmas práticas que garantiram o sucesso da Operação Lava Jato. Ele e sua equipe se debruçarão agora sobre os materiais (celulares, computadores e documentos) apreendidos nos endereços do “barão da droga” no continente africano.

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