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Ouvidor da polícia aponta contradições em depoimentos no caso Paraisópolis

Policiais afirmam que houve uma perseguição de moto dentro do baile funk, enquanto testemunhas e moradores negam a versão da polícia

Por Giovanna Romano 3 dez 2019, 13h11

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Benedito Mariano, afirmou que há contradições nas versões dos depoimentos dos policiais militares ouvidos e das testemunhas que estavam no baile funk em Paraisópolis, favela de São Paulo, onde nove pessoas foram pisoteadas durante uma intervenção da Polícia Militar (PM) na madrugada do último domingo, 1º.

“O órgão corregedor precisa analisar se efetivamente ocorreu a perseguição, como indicado pelos policiais. Os policiais falam sobre a perseguição de moto, mas as pessoas que estavam lá falam que não houve essa perseguição. É preciso estabelecer todos os pontos conflitantes sobre essa ocorrência”, afirmou o ouvidor, em entrevista a VEJA.

Para Mariano, a Corregedoria da Polícia Militar também precisa analisar se houve quebra de protocolos na ação dos policiais. “O fato de a ocorrência de controle ter acontecido quando tinha 5.000 pessoas na rua já é uma situação para ser analisada. O recomendado é que os agentes cheguem antes, para não ter conflito”, disse.

“Há protocolos sobre controle de distúrbios civis, e diversas ações ocorrem por semana. Se houve falha técnica, os protocolos têm que ser revistos ou reafirmados. As ações daqui para frente em bailes funk vão ter que ter uma cautela maior também”, considera o ouvidor.

Mariano lembra de outros dois eventos, além de Paraisópolis, que resultaram em mortes ou em consequências graves. “Em Guarulhos, morreram três pessoas durante a dispersão de um baile funk. Em Guaianases, uma jovem levou uma bala de borracha no rosto e perdeu o olho”, relembra. Mesmo assim, o ouvidor afirma que há “centenas” de ações nas comunidades que não têm um fim trágico.

A Corregedoria da PM já ouviu 31 policiais militares dos 38 que participaram da intervenção. Nesta terça-feira, os moradores de Paraisópolis e as pessoas que estavam no evento começaram a ser ouvidas. Mariano afirma que ainda não teve acesso aos laudos de necroscopia e os laudos balísticos, mas eles já foram concluídos.

O caso

A tragédia aconteceu na madrugada de sábado para domingo, após a chegada da Polícia Militar no local, quando as vítimas morreram pisoteadas em um tumulto. De acordo com as autoridades, a festa abrigava cerca de 5.000 pessoas. Segundo relatos de moradores, os participantes da festa foram encurralados. No total, 12 pessoas foram levadas para o pronto-socorro.

Policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) realizavam Operação Pancadão na região, quando, segundo a PM, dois homens em uma motocicleta atiraram contra os agentes e se dirigiram ao baile funk. A PM afirma que criminosos usaram os frequentadores da festa como escudo humano.

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