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Picciani diz que Paes vai disputar governo do Rio pelo PMDB

De volta à ativa após tratamento de um câncer, peemedebista afirma não haver chance do ex-prefeito mudar de partido e indica apoio a Alckmin em 2018

Por Thiago Prado
Atualizado em 3 out 2017, 20h03 - Publicado em 3 out 2017, 20h00
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  • Considerada a força política mais importante do Rio de Janeiro na última década, o deputado estadual Jorge Picciani (PMDB) está de volta ao comando da Assembleia Legislativa fluminense com uma agenda: após três meses afastado para o tratamento de um câncer na bexiga, chegou a hora de começar a mover as peças do complicado tabuleiro eleitoral que se desenha para as disputas pelo governo do estado e o Palácio do Planalto no ano que vem.

    Em entrevista a VEJA, Picciani lança o ex-prefeito Eduardo Paes para a eleição do Rio e diz que seu alinhamento nacional preferido seria com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Ele admite ainda que a administração do aliado Luiz Fernando Pezão está perdendo a guerra contra o crime: “O governo é fraco, lento, e o secretário de segurança um filósofo”. Abaixo os principais trechos da conversa:

    O senhor se reuniu recentemente com Eduardo Paes. O que ficou definido? Paes será o nosso candidato a governador no ano que vem. Ele esteve comigo, com a Cristiane Brasil (PTB) e o Francisco Dornelles (PP). Disse que, até o final de fevereiro, se desliga da empresa chinesa onde trabalha como consultor e, em março, já estará à disposição.

    A delação do marqueteiro Renato Pereira, prestes a ser homologada, não vai implodir Paes de vez? Não conheço os depoimentos ainda. Tem muita mentira nessas delações também. O que posso garantir: nunca ouvi nenhum empresário dizer que Paes pedia vantagens pessoais. Pelo contrário, sempre reclamavam que ele não honrava os reajustes de valores em obras previstos em contratos.

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    Mas e se o marqueteiro falar de caixa dois? Aí não sei… Quem coordenava tudo para ele era o Pedro Paulo.

    Devido ao desgaste do PMDB no estado, Paes nunca falou para o senhor que pensa deixar a sigla? Zero chance. Ele não pensa nisso.

    Ele diz para aliados que ainda tem dúvidas… Olha, eu tenho que me guiar pela forma como ele fala comigo. Tanto que, a pedido do próprio, já conversei com pelo menos vinte prefeitos de diferentes regiões e partidos. Em novembro, o Eduardo virá ao Rio para apertar a mão de cada um pedindo apoio. Vamos fazer uma grande aliança e desde já digo que o PMDB não terá candidato ao Senado. Teremos duas vagas para compor com outros partidos. Gostaria que uma delas fosse do Cesar Maia.

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    Se mesmo assim Paes saísse do PMDB, o senhor o apoiaria para governador em outra legenda? Essa hipótese não existe. Meu partido é o PMDB, oras, e não outro. Há, aliás, um boato de que haverá uma debandada de parlamentares do PMDB para outros partidos plantado na imprensa pela (deputada federal) Laura Carneiro. É um erro, ainda somos muito fortes no estado. Em 2016, mesmo com os escândalos e os salários atrasados no governo Pezão, vencemos em mais de uma dezena de cidades. Só perdemos na capital por causa de uma escolha errada.

    Então o senhor finalmente admite que a candidatura de Pedro Paulo em 2016 foi um erro? Sempre achei um equívoco e disse isso faltando um ano para a disputa. Não entro no mérito se Pedro Paulo bateu ou não na ex-mulher, o problema é que a questão era muito grave. Eu até tinha maioria para aprovar outro candidato na convenção do PMDB, mas não podia agir desta forma. Se fizesse isso, o Eduardo cruzaria os braços na campanha e não estaríamos no segundo turno do mesmo jeito.

    O PMDB do Rio gostaria de apoiar qual candidato nacionalmente? Acho que o quadro mais consistente da política nacional hoje é o governador Geraldo Alckmin. Foi vereador, prefeito, deputado estadual e federal, vice do Mario Covas e se reelegeu duas vezes governador. Ou seja, tem experiência.

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    Para isso Alckmin precisa vencer a disputa com João Dória dentro do PSDB… Nunca fui apresentado ao prefeito de São Paulo, mas já adianto que não gosto de aventuras, nem de políticos que começam a se movimentar muito rápido. Também detesto esse hábito de governar pelo iPhone. São Paulo é uma cidade extremamente complexa e, por mais talentoso que ele seja, acho que está faltando ficar mais tempo sentado na cadeira de prefeito.

    Não há espaço ainda para um nome completamente novo de fora da política entrar no jogo estadual ou federal? Nada, não vai existir isso na política. Afinal, qual foi a novidade nas eleições recentes no Amazonas (disputa entre os ex-governadores Amazonino Mendes e Eduardo Braga)? O mais velho ganhou do menos velho e não houve qualquer inovação. Outra questão a se observar: o Partido Novo acaba de anunciar o economista Gustavo Franco como formulador do seu programa de governo. E ele e outros economistas renomados por acaso têm entrada no subúrbio? As pessoas não fazem ideia de como é difícil construir uma candidatura. Nesses tempos de Big Data e novos recursos digitais, o que ainda vale pra mim na hora de ganhar votos é andar embaixo do sol e apertar a mão de eleitor na rua.

    Qual a saída para a crise de violência no Rio? O modelo das UPPs teve sucesso no início, mas chegou a hora de mudar. É uma enganação ter 700 homens na Rocinha fazendo um suposto policiamento de proximidade quando a população está refém dos traficantes de novo. Seria mais inteligente tirar os policiais das UPPs e reforçar os batalhões embaixo. São quase 10 000 agentes virando alvo de bandidos todo dia dentro das favelas. Este modelo poderia ter dado certo se tivéssemos alcançado o efetivo de 60 000 policiais planejado antes da crise. Hoje, temos pouco mais que a metade disso.

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    O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, defendeu a exoneração do secretário de segurança Roberto Sá. O senhor concorda? Se o Rodrigo conhecesse um pouco o governador, não teria agido desta forma. Sempre que critiquei a sua equipe, Pezão a defendia logo em seguida. Sobre o secretário: penso que ele é um filósofo e não está dando para fazer filosofia nesse ambiente violento. Já o governo, como frisei outras vezes, é muito fraco e lento. Pezão não decide nada: na crise da favela da Rocinha, por exemplo, demorou quatro dias para se pronunciar, e a polícia e o Exército, seis para agir.

    Há quase três anos o senhor critica Pezão publicamente. Não é desleal da sua parte? Passei a me manifestar na medida em que reclamei diversas vezes pessoalmente e, depois, nada mudou. Falei para o Pezão em março de 2015 que o estado ia quebrar. Toda a movimentação feita este ano com acordo de recuperação judicial poderia ter acontecido antes em um contexto muito mais favorável.

    Por que o senhor não se manifestou publicamente sobre as denúncias envolvendo Sérgio Cabral? Esta questão não é mais da política e acho que cada um que arque com as suas responsabilidades. Ele sempre teve a vida dele e eu a minha. Nunca fomos dependentes um do outro. Já tinha falado lá atrás que o problema do Cabral era a soberba, mas não quero ficar comentando o passado. Tudo isso é muito triste.

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    Por que nunca expulsou Cabral e Eduardo Cunha do PMDB mesmo depois de presos? Seria inócuo, uma mera formalidade fazer isso. Os dois não participam de mais nenhuma decisão partidária. Não sou demagogo, os caras já estão presos, para que expulsar?

    O senhor é acusado de receber propinas nas delações de executivos da Odebrecht, do doleiro Lúcio Funaro, do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado, Jonas Lopes, e outros. Qual a defesa? É tudo mentira. O Funaro é um bandido, nem conheço. O Jonas me atacou depois de eu abrir uma CPI contra ele. Os executivos da Odebrecht disseram em juízo que a empresa me doou espontaneamente. Nunca haverá um empresário dizendo que eu tenha pedido um lápis em troca de qualquer coisa.

    Em delação premiada, os executivos da Carioca Engenharia afirmaram que superfaturaram a compra de bois da sua empresa Agrobilara. Por que tantos fornecedores do estado compram gado do senhor? São leilões públicos, não posso impedir ninguém de fazer ofertas pelos lotes da minha empresa. Agora, eu pergunto: onde está a prova de que eu favoreci alguém depois? Minha família está nessa atividade há mais de trinta anos, acordamos cedo para trabalhar e entendemos do ramo. Tenho uma vida confortável, mas simples. Nunca ninguém me viu ostentando nada, aparecendo em festas e comemorações. Nem na escolha da sede da Olimpíada eu fui em 2009. No dia que a Polícia Federal fez busca e apreensão na minha casa, os agentes se surpreenderam porque não encontraram computadores. Gente, eu não sei nem ligar um computador.

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