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Política contra violência do Rio causará mais tragédias, diz pesquisadora

Em cinco dias, seis jovens inocentes morreram, quatro durante a realização de operações policiais

Por Leandro Resende, do Rio de Janeiro
14 ago 2019, 19h45

Dois aspirantes a jogador de futebol, uma mãe de apenas 17 anos que deixa um filho, um repositor de supermercado. Jovens, cheios de sonhos e com a vida inteira pela frente, cujas vidas foram ceifadas nos últimos cinco dias no Rio de Janeiro. No total, seis pessoas morreram nos últimos cinco dias – quatro mortes ocorridas durante operações policiais. O caso mais recente é o de Margareth Teixeira, de 17 anos, morta durante confronto entre policiais e traficantes na comunidade do Quarenta e Oito em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Seu filho, de apenas 1 ano e 9 meses, também foi atingido.

Os casos, ocorridos em sequência e em menos de uma semana, dão sinal de que a política de confronto com criminosos estimulada pelo governador fluminense Wilson Witzel (PSC) não está no caminho certo. “Se a polícia continuar atirando sem se preocupar com os habitantes dos locais onde atira, vamos viver tragédias inaceitáveis todos os dias”, avalia a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança Pública.

Entre a sexta-feira 9 e a terça-feira 13, operações nas Zonas Norte e Oeste da capital, além de uma em uma favela em Niterói, na região metropolitana, terminaram com quatro jovens mortos. O primeiro caso da trágica série ocorreu no dia 9, quando Gabriel Pereira Alves, de 18 anos, levou um tiro no peito enquanto aguardava o ônibus que o levaria para escola. Os episódios ocorreram em dinâmicas semelhantes: durante confronto entre traficantes e policiais militares ou civis. Há ainda os casos dos dois jovens mortos durante uma festa na Zona Norte, no último sábado.

“Nossa pesquisa mostra que operações policiais em 2019 estão mais frequentes, mais letais e mais assustadoras em relação ao ano passado. Sob o comando de Witzel, as operações policiais na região metropolitana no Rio cresceram 42% e o número de mortes nelas cresceu 46%”, explica Sílvia. De acordo com os dados da Rede de Observatórios, as ações armadas sobretudo em favelas fluminenses são mais recorrentes do que durante o período da intervenção federal na segurança pública, em 2018.

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Os dados oficiais do governo reforçam a análise. Nos primeiros seis meses do ano, dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam alta de 14,6% no número de mortes cometidas por agentes do estado, como hoje são chamados os “autos de resistência”. Entre janeiro e junho de 2018, ocorreram 769 casos, contra 881 no mesmo período deste ano.

“Witzel está repetindo o pior de suas políticas de segurança dos últimos 20 anos,apostando em tiroteios e confrontos. Governadores de triste memória para o Rio, Moreira Franco e Marcello Alencar, também disseram no início de suas gestões, que com eles os criminosos não teriam vez”, analisa Sílvia.

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Na opinião da pesquisadora, o investimento neste modelo contribuiu para a expansão de fuzis e metralhadores em áreas que antes não registravam a presença deste tipo de armamento. “Baixada Fluminense, São Gonçalo, Angra dos Reis, Volta Redonda, Campos dos Goytacazes, hoje convivem com fuzis. As políticas de segurança interiorizaram a presença de criminosos no estado”, explica a cientista social.

A polícia do Rio investiga as mortes dos jovens. Em entrevista à TV Globo, o secretário de governo do estado, Cleiton Rodrigues, lamentou os casos e outros que “possam acontecer”. “O governador e o governo do estado lamentam profundamente todas essas mortes. Essas e todas as outras que possam acontecer. Nós estamos todos os dias trabalhando para que elas não aconteçam”, declarou.

As mortes

Sexta-feira, 9: Gabriel Pereira Alves, de 18 anos, aguardava o ônibus para escola quando levou um tiro no peito na Tijuca, Zona Norte do Rio.
Sábado, 10: uma briga em uma festa na Zona Norte terminou com a morte do soldado do Exército, Lucas Monteiro dos Santos Costa, de 21 anos. O cunhado dele, Tiago Freitas, 21 anos, também foi morto.
Segunda-feira 12: o sonho de Dyogo Coutinho de se tornar jogador de futebol pelo América do Rio acabou com tiros de fuzil em suas costas. O Batalhão de Choque de Polícia Civil realizava, naquele dia, uma operação na comunidade da Grota, em Niterói;
Segunda-feira 12: Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, de 19 anos, levou um tiro durante confronto entre policias e traficantes em Magé, na Baixada Fluminense. A PM alega ter encontrado drogas com ele. Nas redes sociais, ele aparece com o uniforme de uma rede de supermercados – a família afirma que ele trabalhava como repositor.
Terça-feira 13: Margareth Teixeira, de 17 anos, e outros dois homens morreram durante confronto entre policiais e traficantes na comunidade do Quarenta e Oito em Bangu, Zona Oeste da capital fluminense. O filho dela, de 1 ano e 9 meses, levou um tiro de raspão no pé.

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