Ele foi recebido com pompa e a circunstância possível, na madrugada fria de Navegantes, em Santa Catarina, no domingo 20. Veio pelo mar, e não pelo céu, por ainda não estar pronto para voar, à espera de peças. Apesar de o transporte ter sido realizado por volta das 4 horas, a caminho do hangar, e debaixo de forte esquema de segurança composto de 140 policiais militares, desfilou com galhardia entre animados grupos de moradores e ruas estreitas — por um triz suas asas não beijaram os muros. Bem-vindo ao primeiro caça Gripen, o F-39E, da sueca Saab, a desembarcar em território brasileiro. Previa-se seu primeiro voo na sexta-feira 25, do aeroporto catarinense até a cidade paulista de Gavião Peixoto, onde fica a unidade de fabricação de aeronaves militares da Embraer, parceira da empreitada. Até 2026, 36 unidades serão produzidas, com transferência de tecnologia escandinava, a um custo total de 17 bilhões de reais. As aeronaves substituirão, paulatinamente, os Mirage 2000 que compõem a flotilha a serviço da Força Aérea Brasileira. Quem vê o aparelho vitorioso não pressupõe a fumaça que deixou no ar. A escolha da Saab, e não da americana Boeing ou da francesa Dassault, provocou imenso ruído dos derrotados e deflagrou uma investigação. As condições do negócio, levadas à mesa durante o primeiro mandato de Lula, estão sendo apuradas pela Operação Zelotes. Suspeita-se de tráfico de influência. O ex-chanceler Celso Amorim, que liderou a transação, nega qualquer irregularidade. Nada há contra os suecos, que chegaram a depor, reafirmando a lisura do negócio. Alheio ao ruído, o Gripen está pronto para decolar.
Publicado em VEJA de 30 de setembro de 2020, edição nº 2706