Apenas três dos 474 delegados do PSDB votaram contra a chapa única acordada entre caciques tucanos, encabeçada por Geraldo Alckmin, para presidir o partido no próximo ano. Tamanha chancela também significa a consolidação do nome do governador de São Paulo como candidato do partido à presidência da República. Mas a unidade aparente nos números não se confirma na prática, na avaliação de tucanos ouvidos pela reportagem durante a convenção que elegeu Alckmin, em Brasília.
Há aparente consenso de que não há nenhum nome no partido hoje forte o bastante para fazer frente ao do governador na corrida presidencial. Os tucanos consideram que a pré-candidatura do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que quer disputar prévias contra Alckmin no ano que vem, será um mero exercício de marketing para testar seu nome para o governo do Amazonas — e não a levam tão a sério. Mas essa unidade não significa mar aberto para o governador. Ao ser ungido presidente, atropelou ambições diversas de integrantes do ninho e deixou rastro de descontentamento.
Marconi Perillo, governador de Goiás, e o senador Tasso Jereissati queriam a presidência do partido. José Serra estava ávido para disputar com Alckmin um assento na candidatura presidencial. Os ministros tucanos de Michel Temer queriam que o governador, ao se tornar presidente, trabalhasse para colher votos pela reforma da Previdência para que eles não tivessem de deixar seus cargos livres para o balcão de negociação do governo. Os cabeças pretas, grupo de tucanos que defende a renovação e a saída de Aécio Neves de partido, queriam que o governador anunciasse rompimento barulhento com o governo e implantasse medidas de transparência no PSDB — além de rechaçarem qualquer possibilidade de aliança com o PMDB em 2018. Ocorre que nenhuma das partes deverá ser atendida — e há poucas aves mais ferinas do que um tucano frustrado.
Alckmin tentou, por meio de nomeações da nova executiva nacional, sanar alguns descontentes. Nomeou Perillo primeiro-vice-presidente, posto que lhe garante a chefia do partido caso Alckmin se afaste em período eleitoral. A Tasso Jereissati, deu o comando do Instituto Teotônio Vilela, que deverá ser responsável por elaborar o programa de governo do tucano em 2018. Já o grupo de Aécio Neves, representado pelo deputado Marcos Pestana, ficou com a tesouraria do partido. A equipe de Alckmin acha que as nomeações, associadas aos sinais emitidos pelo tucano, foram suficientes para selar a paz. “Havia um clima de tensão. Mas os discursos de Fernando Henrique Cardoso e do Geraldo dissiparam esse sentimento. Foram muito precisos no sentido de chamar a atenção para o essencial: a necessidade de o PSDB se unir”, disse um dos assessores do governador. Mas, ao esquivar-se de defender a reforma da previdência em seu discurso, Alckmin incitou o fogo amigo: “como ele deseja defender uma candidatura presidencial com foco em responsabilidade tendo no currículo a rasura de não ter apoiado a reforma da previdência?”, questionou um deputado tucano que tenta captar votos pró-reforma.
A equipe de Alckmin considerou “na medida” o afago que o governador deu a Michel Temer enaltecendo “os esforços do atual governo para enfrentar a crise e, pouco a pouco, começar a reversão da atual tragédia econômica”. E também suspeita que o presidente ficará satisfeito ao ver que o governador não se referiu nem por um minuto às acusações de corrupção contra o atual governo — atendo-se apenas aos desvios petistas. Conhecido como “Santo” na planilha da Odebrecht e citado por delatores da empreiteira como receptor de caixa dois, por meio de seu cunhado, o governador sabe que precisa do apoio do PMDB para que o partido não embarque em uma candidatura rival, como a que o ministro Henrique Meirelles ensaia criar.
A exemplo do que fez João Doria quando cogitou lançar-se pré-candidato, o discurso anti-Lula também permeou a fala do governador, que tem como primeira estratégia eleitoral recuperar os votos que migram em direção a Jair Bolsonaro. Falta saber se a mesma mão que afaga Temer será convincente o bastante para atrair o apoio popular e do próprio partido. Com 7% de preferência do eleitorado no DataFolha, Alckmin até agora não decolou.