Quase 8% dos caminhoneiros dirigem sob efeito de drogas, diz pesquisa
Como o presidente Jair Bolsonaro, autora do estudo não concorda com os exames toxicológicos obrigatórios
Uma pesquisa realizada pelo projeto Comandos de Saúde nas Rodovias em São Paulo, feita em um período de oito anos, revelou que 7,8% dos motoristas de caminhão no Brasil fazem o uso de drogas ilícitas —anfetamina, cocaína e maconha. Vilma Leyton, doutora pela USP em toxicologia e autora do estudo, diz acreditar que tal número deveria ser menor, mas não concorda com os exames toxicológicos obrigatórios. “Isso só está lucrando os laboratórios.”
A pesquisadora diz a VEJA que o exame não é uma medida eficaz para a segurança viária e não é feito em nenhum lugar do mundo. “Não adianta nada você fazer o exame uma vez a cada cinco anos, e depois a pessoa continuar dirigindo”.
A pesquisa, realizada com 4.110 caminhoneiros, indicou que, entre 2009 e 2016, a substância predominante foi a cocaína (3,6%), seguida da anfetamina (3,4%) e da maconha (1,6%).
“Eles informaram o motivo: por causa da longa jornada de trabalho. Não usam como recreativo”, revelou Vilma.
A conclusão do estudo é que o uso das substâncias não diminuiu durante o período, o que indica a necessidade das medidas preventivas para reduzir o uso de drogas. A pesquisadora sugere um controle maior de fiscalização, por exemplo, dentro das empresas que contratam os caminhoneiros.
A Lei 13.103/2015, conhecida como a “Lei do Caminhoneiro”, trouxe a obrigatoriedade da realização do exame toxicológicos para os motoristas profissionais de transporte rodoviário de passageiros e de cargas. Na última quinta-feira, 5, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) entregou à Câmara um projeto de lei que prevê, entre outras medidas, eliminar o teste.
A pesquisadora explica que o método escolhido e utilizado foi a urina. Isso significa que não necessariamente o caminhoneiro estava sob efeito de droga no dia em que foi realizado o exame, porque as substâncias ilícitas continuam no corpo do motorista por alguns dias.
Já o presidente da Comissão Especial de Direito do Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Armando Silva de Souza, critica a revogação do teste toxicológico. “O objetivo do código [de trânsito] é a segurança, resguardar a vida das pessoas. Quando um projeto de lei revoga tais testes, ele coloca em risco a vida de terceiros nas rodovias públicas”, afirmou.