A situação de duas vacas atoladas na lama de rejeitos de minério desde a última sexta-feira, quando a barragem da Vale se rompeu, vem chamando a atenção de pessoas da região do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), e de instituições de proteção dos animais.
Seguindo o protocolo de atuação, o Corpo de Bombeiros prioriza a retirada de busca de pessoas, entre mortos e sobreviventes. No entanto, as imagens dos animais vivos em condições degradantes – uma vaca com apenas a cabeça para fora dos rejeitos, a outra quase em pé com as patas atoladas – mobilizaram os grupos.
Durante a tarde do domingo 27, uma equipe de voluntários, entre moradores e ativistas, decidiu entrar na lama para resgatar o animal, após discussões com policiais civis e militares e bombeiros civis, que tentaram impedi-los, em razão do risco de rompimento de uma nova barragem.
Organizada pelos grupos Instituto Luísa Mell, EcoAção e Anjos do Asfalto, a ação começou depois que a Defesa Civil descartou o risco de que a Barragem 6 do complexo, que armazena água, estourasse naquele momento. “Entendo a preocupação e também entendo que eles priorizem os seres humanos, mas nós estamos vendo a pobre vaca ali sofrendo há horas. Não dá para ficar de braços cruzados aqui”, afirmou a VEJA Luana Trindade, do EcoAção, que ressaltou ter trazido pessoas que atuaram no desastre ambiental de Mariana (MG).
Os ativistas e moradores derrubaram um bloqueio que havia sido erguido com tapumes para evitar que eles chegassem até os animais. Os tapumes foram colocados sobre a lama para chegar à vaca que estava atolada na lama até o pescoço.
A ação para salvá-la, contudo, não foi plenamente bem-sucedida. A vaca chegou a ser içada para fora da lama, mas retornou poucos segundos depois. Uma avaliação veterinária concluiu que o animal, que estava com quase todo o corpo dentro da lama de rejeitos, não sobreviveria, mesmo se retirado, por estar excessivamente desidratado e desnutrido. Para ao menos evitar o sofrimento da vaca, uma vez que ela poderia continuar por mais alguns dias naquela situação, optou-se pelo sacrifício, através de uma injeção.
Já a segunda vaca, que está com a maior parte do corpo para fora dos rejeitos, ainda nutre mais esperanças entre os grupos. Os voluntários estão em contato com o Corpo de Bombeiros e pretendem tentar resgatá-la nesta segunda-feira, 28. Um caminhão com tapumes de madeira, enviado pelos próprios ativistas, chegou até o local. Eles pretendem colocar as placas sobre a lama para fazer uma plataforma que eleve até a vaca, que está em um ponto mais distante que o outro animal. Para garantir a sobrevivência dela, o grupo levou ração e água até o local.