O empresário Edgard Gomes Corona, dono da Smart Fit e da Bio Ritmo, as maiores redes de academias do país – são 501 lojas no Brasil -, foi, em tese, um dos principais beneficiados pelo decreto assinado na segunda-feira 11 pelo presidente Jair Bolsonaro que incluiu academias, salões de beleza e barbearias entre as atividades consideradas essenciais e que podem funcionar mesmo durante o isolamento social adotado contra o coronavírus.
Apoiador do presidente, ele diz que não teve influência na decisão e afirmou que respeita a oposição da maioria dos governadores à adoção da medida, o que na prática vai inviabilizar a abertura desse tipo de estabelecimentos em quase todos os estados.
O senhor ficou frustrado com a oposição dos governadores ao decreto? Olha, nós estamos em tempos de mar revolto, de águas turbulentas. Se estivéssemos em outra situação, acho que diria “vamos abrir, claro!”. O reconhecimento da essencialidade da atividade é importante para o setor, que evoluiu da ideia do corpo malhado para o conceito de saúde. E isso tende a ficar mais forte no pós-pandemia. Participo de grupos que reúnem os maiores grupos de academias do mundo e vimos que na China, por exemplo, mais de 30% das novas matrículas são de alunos que eram sedentários e nunca tinham praticado atividade física antes. Mas nós vamos respeitar toda a comunidade, que inclui as autoridades estaduais e locais e também os nossos clientes. É muito importante que se considere atividade física como essencial, já que a hipertensão, o diabetes, a obesidade são comorbidades que, no caso da Covid-19, geram evolução de quadros mais graves e a maioria das mortes. Mas, mesmo sendo essencial, em algumas áreas, não é possível retomar.
Quais são as condições para que a Smart Fit e a Bio Ritmo abram as portas? Quando as autoridades entrarem em consenso de que há segurança para a reabertura. Nem eu quero abrir uma academia em uma área que esteja em surto. O que eu espero é que as autoridades consigam encontrar formas de tratar o país e até os estados considerando a realidade de cada região. Na capital paulista, talvez não seja possível retomar a atividade, mas em Presidente Venceslau ou em Cerquilho, no interior do estado, seja. Essa análise da curva de infecção com a estrutura da rede de saúde da região pode ser a chave.
O senhor pode estimar o prejuízo do seu grupo até agora? Temos 850 lojas na América Latina. São 501 no Brasil, 169 no México e 180 em outros países da América Latina. Só 16 estão abertas e todas na região Sul do Brasil. Estamos há 50 ou 55 dias parados, dependendo do lugar. Caímos para receita zero. Eu te devolvo a pergunta: quando poderemos reabrir? Ainda não dá para falar nada sobre este ano. Cada dia é um dia. Estávamos indo muito bem no primeiro trimestre. Mas não posso dizer nada porque temos se seguir as regras do mercado de capitais.
Mas será um grande tombo, certo? Será para todo mundo, literalmente. Nós ainda tivemos a sorte e competência de termos nos capitalizado no ano passado para a expansão que faríamos este ano (a empresa captou quase 1,2 bilhão de reais em 2019). Fomos pegos com dois cilindros de oxigênio nas costas. Estamos sobrevivendo com o caixa que iria para a expansão para sobreviver na crise. Mas isso é exceção no nosso setor, que tem cerca de 30 mil empresas.
O senhor demitiu funcionários nos últimos meses? Não tivemos demissões. Apenas não renovamos os contratos de 220 profissionais em experiência, que iriam trabalhar em lojas que não existirão, uma vez que suspendemos a expansão de novas lojas. O que usamos foi a redução de salário, já que nossa receita foi a zero.
Procurou o presidente Jair Bolsonaro ou teve alguma participação para que ele editasse o decreto? (Risos) Nenhuma! Nem eu nem outras pessoas do grupo de empresários com quem costumo conversar. Muito pelo contrário. Encontrei com o presidente duas vezes em eventos. Acho que, se me colocarem na frente dele, ele não deve saber meu nome. Pelo que soube, alguém gritou para ele na porta do palácio que tornasse o setor também atividade essencial, e ele deve ter se sensibilizado com o pedido. Essa área, como quase todas as outras, está sofrendo muito. Só em São Paulo, por exemplo, existem cerca de 100 000 profissionais de educação física em academias, sem personal trainers, professores de pilates, entre outros. É bem possível que ele tenha se sensibilizado com essa situação.
O senhor continua apoiando o presidente Bolsonaro? Torço para todo governo dar certo, o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras. Não dá para um empresário ser contra o governo. Acho que o governo Bolsonaro tem um trabalho consistente na área econômica. O ministro Paulo Guedes (Economia), o Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e o Bento (Albuquerque, de Minas e Energia) estão trabalhando muito bem. A área econômica vem trabalhando bem durante a crise, se compararmos com outros países da América Latina. O adiamento de pagamento de impostos, a medida provisória que permitiu a redução salarial com redução de jornada também foi importante e sem privilegiar um setor ou outro. Foi na transversal.
Concorda com a condução do presidente durante a pandemia? Quero crer que todos os governos e cada governante, em cada um dos seus níveis, está tentando fazer o melhor que pode nessa situação jamais vista. Até porque esta é uma crise de saúde, social, comportamental, para a qual não existe um manual definitivo. Algo que jamais vivemos na nossa história.
O que está achando do processo desencadeado com a saída do ministro Sergio Moro e as acusações contra o presidente? Vou me ater ao meu papel de empresário e não vou comentar questões políticas. Como todos sabem, estamos vivendo um momento sério, de pandemia, e meu foco é cuidar dos nossos clientes, da preservação dos mais de 10 000 empregos que geramos em toda a América Latina e do nosso negócio.