A Suíça repassou a procuradores brasileiros, há um ano, informações sobre as transações de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), preso pela Polícia Federal na manhã desta terça-feira. O ex-ministro do Turismo do governo de Michel Temer era investigado em Berna, capital do país europeu, desde fevereiro de 2016 pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Mas, segundo informações obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, antes de ter seu dinheiro bloqueado, ele pode ter conseguido transferir grande parte para o Uruguai e Dubai.
Citado na delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em junho de 2016, Alves enviou uma carta de demissão a Michel Temer em que explicava que não queria criar “constrangimentos” para o então presidente interino. Ele foi o terceiro ministro da gestão a cair. Em sua delação, Sérgio Machado afirma que deu propinas no valor de 1,5 milhão de reais para Alves, entre 2008 e 2014 – parte delas para financiar a campanha de governador do Rio Grande do Norte, três anos atrás.
Transferências
Fontes europeias próximas ao caso confirmaram ao jornal que Alves, num primeiro momento, foi descoberto com uma conta com depósitos que variavam entre 700.000 dólares e um milhão de dólares (entre 2,3 milhões e 3,3 milhões de reais).
Um mês depois do início da investigação, no entanto, o ex-ministro pode ter transferido o dinheiro para contas no Uruguai e Dubai. A investigação revelou que a empresa Posadas & Vecino, com escritórios em Montevideu e em Genebra, pode ter ajudado na transferência. A empresa chegou a ser citada de forma direta ou indireta em operações de contas abertas pela Odebrecht, ex-diretores da Petrobras e até pelo ex-deputado Eduardo Cunha.
Segundo a reportagem, o jornal chegou a visitar o endereço oficial que a Posadas & Vecino apresenta em seu site, em Genebra. O local, porém, é apenas uma sala alugada dentro de outro escritório. No registro comercial de Genebra, a empresa aparece com endereço nas Ilhas Virgens Britânicas.
Investigação na Suíça
A investigação do ex-ministro começou em Berna, sob a suspeita de que a conta estivesse sendo alimentada por recursos vindos de propinas. Ela seria uma das mais de mil contas relacionadas à Lava Jato bloqueadas pelos suíços em seus bancos locais. Porém, a procuradoria suíça optou, assim como no caso do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), por transferir o caso às autoridades brasileiras. O Ministério Público da Suíça considerou que não faria sentido processar o brasileiro, pois mesmo se ele fosse levado a um julgamento em Berna, jamais conseguiriam sua punição, uma vez que o Brasil não extradita seus nacionais.
O negociado com os procuradores brasileiros foi, então, transferir o caso para que Alves fosse investigado e julgado no próprio país. Segundo os suíços, a transferência do caso permitiria que a Justiça no Brasil pudesse agir de forma rápida para garantir que as provas e os recursos não fossem perdidos.