Terrorismo, um mal recente no país
Atentado sofrido por Bolsonaro mostrou que o perigo nem sempre está associado a grupos articulados como o Estado Islâmico ou a ITS
O Brasil nunca esteve no mapa-múndi do terrorismo — uma realidade que começou a mudar de poucos anos para cá. O caso mais emblemático nessa área ocorreu às vésperas da Olimpíada de 2016, quando dez pessoas foram presas na Operação Hashtag, acusadas de planejar atentados que supostamente seriam executados durante os Jogos no Rio de Janeiro. Oito foram condenadas por promover, constituir e integrar a organização. Embora não tenham explodido um traque sequer, os réus foram considerados pela Justiça como uma ameaça à ordem pública, por terem divulgado mensagens nas redes sociais incentivando atos de violência. “As teses de que as postagens e diálogos dos acusados de conteúdo extremista não passavam de expressão de curiosidade religiosa, meras bravatas ou brincadeiras não podem ser aceitas como justificativas”, escreveu em sua sentença o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba.
A Lei Antiterrorismo, aprovada pouco antes do incidente na Olimpíada, é rigorosa. Não há necessidade de um ato em si para que a pessoa seja acusada de terrorismo, bastando a simples ação de promover medidas violentas a partir da defesa de suas ideias (a Sociedade Secreta Silvestre, a SSS, está um passo à frente disso). No caso da Olimpíada, as punições foram pesadas. Os condenados receberam penas que variaram de cinco a quinze anos de prisão. Atualmente, eles cumprem suas sentenças em pavilhões isolados no presídio de segurança máxima de Campo Grande (MS). A decisão foi considerada didática.
O atentado sofrido por Jair Bolsonaro, porém, mostrou que o perigo nem sempre está associado a grupos articulados como o Estado Islâmico ou a Individualistas que Tendem ao Selvagem (ITS). Antes de esfaquear o candidato em Juiz de Fora, Adélio Bispo de Oliveira interagia com um perfil falso do ex-presidente Lula, mandava mensagens para ministros do Supremo e se dizia vítima de perseguição da maçonaria. O garçom foi preso, processado, mas acabou considerado inimputável por ter problemas mentais. Ele era o que os especialistas chamam de lobo solitário. Anhangá e sua turma parecem mais perigosos e organizados.
Publicado em VEJA de 24 de julho de 2019, edição nº 2644