Um vídeo do elevador social do edifício Majestic, na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio de Janeiro), mostra o momento em que o menino Henry Borel, de 4 anos, é carregado nos braços pela sua mãe, a professora Monique Medeiros, de 33, em companhia do padrasto, o ex-vereador e médico Jairo Souza Santos Júnior, de 43. As cenas são fortes: desfalecido e muito pálido, o menino aparece boquiaberto e com olhos semicerrados na madrugada de 8 de março. As imagens, de cerca de 30 segundos, constam nos autos do processo em que ambos são réus por homicídio triplamente qualificado e tortura da criança, a que VEJA teve acesso. O relógio do elevador marcava 4h09 daquela noite. Segundo a Polícia Civil, a criança já estava morta àquela ocasião – um laudo pericial do Instituto de Criminalística fluminense atesta que Henry teria morrido entre 1h a 3h antes da chegada ao hospital.
Embora Jairinho tenha dito no depoimento dado à 16ª DP (Barra da Tijuca), dez dias dias após o crime, que não prestou primeiros socorros a Henry (porque, supostamente, a última vez em que fez procedimentos de ressuscitação teria sido em um boneco na faculdade de medicina), o ex-vereador aparece assoprando a boca do menino desfalecido. Monique, então, balbucia algumas palavras para o namorado.
Para Braz Sant’anna, advogado de defesa de Jairinho, as imagens coletadas durante as investigações mostram que seu cliente não foi omisso ao socorrer a criança e que Henry estava vivo no elevador, o que contraria as conclusões da polícia e dos dois laudos periciais. Estes, por sua vez, mostraram a causa da morte por laceração no fígado e o período de tempo em que a criança foi assassinada, além de apontar um total de 23 lesões no corpo do menino. Procurado, o defensor não atendeu às ligações da reportagem. À época, a defesa de Jairinho e de Monique sustentou que a criança morreu em decorrência de um acidente doméstico. Agora separados por duas equipes de advogados diferentes, a estratégia de cada um deve mudar diante da juíza Elizabeth Machado Louro, do 2º Tribunal do Júri fluminense.
O trecho do vídeo foi discutido em audiência do Tribunal do Júri no último dia 6. Henrique Damasceno, delegado que investigou o caso, reafirmou que o garoto chegou morto ao hospital. “Ficou expressamente demonstrado pela equipe médica e pelos laudos periciais que, embora tenha sido submetido a manobras de ressuscitação por bastante tempo, em nenhum momento, ele apresentou frequência cardíaca”, declarou o delegado. Ele acrescentou que o procedimento de assoprar a boca da criança no elevador não era o adequado para um caso como esse.
Em depoimento prestado na delegacia, Monique e Jairinho disseram que acordaram com um barulho por volta das 3h30. Em seguida, ela teria encontrado o garoto caído no chão. As imagens do elevador, no entanto, mostram que se passaram 39 minutos até o casal deixar o apartamento. Quem teria dado os primeiros socorros à criança seria Monique, que admitiu que jamais teria feito os procedimentos de ressuscitação antes. Em chats, a polícia descobriu que a babá de Henry, Thayna de Oliveira Ferreira, narrou em tempo real uma sessão de tortura de Jairinho contra o garoto um mês antes de sua morte para Monique. Ao levar a criança ao hospital no dia seguinte porque ela estava mancando, alegou que Henry teria caído da cama. Devido a isso, Monique também é ré por falsidade ideológica. Nas bancas esta semana, VEJA mostrou que a sombra do clã político de Jairinho, comandado por seu pai, o deputado estadual Coronel Jairo, paira sobre as testemunhas do caso.