Vídeo revela que, antes de morrer, Sabine Boghici ficou em cárcere privado
Herdeira do colecionador Jean Boghici e acusada de dar um golpe na mãe junto com falsas videntes, ela caiu da janela de um apartamento no Rio
Menos de um mês depois de cair do 5º andar de um apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro, Sabine Boghici, de 49 anos, acusada de dar um golpe de 725 milhões de reais na própria mãe, pode ter sido vítima da quadrilha à qual se aliou. As circunstâncias da morte de uma das filhas do marchand romeno Jean Boghici (1928-2015), dono de uma das mais importantes coleções de obras de arte do país, estão sendo investigadas pela Polícia Civil carioca. As suspeitas são de que, em seus últimos seis meses de vida, Sabine, que estava morando na casa de Catarina Stanesco, uma das filhas da cigana Rosa Stanesco Nicolau – apontada como a mentora de uma trama macabra –, estaria sendo controlada, mantida em cárcere privado e teria sido induzida a tirar a própria vida.
Em um vídeo gravado por vizinhos do prédio onde a queda ocorreu, obtido por VEJA com exclusividade, se ouve Sabine implorando à filha da cigana, dias antes do desfecho trágico, para soltá-la: “Catarina, Catarinaaaa, abre a porta! Catarinaaaa, por favor, abre pra mim”. A súplica da filha do marchand, que prestaria seu primeiro depoimento à Justiça sobre o caso uma semana após a data da morte, ocorrida em 14 de setembro, reforça os indícios de que ela tinha todos os passos controlados pela família de Rosa. As duas se casaram, em circunstâncias obscuras, em dezembro de 2021, meses após se conhecerem.
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Com a morte de Sabine, a cigana, que já foi acusada de dar uma série de golpes em nome da fé alheia, é a beneficiária de 25% da herança deixada por Boghici, estimada em 2 bilhões de reais. A polícia também investiga o motivo de a filha do marchand ter feito nos últimos meses, curiosamente, um testamento em que beneficia o filho caçula de Rosa, que possui um transtorno do espectro autista. Em última instância, a cigana, que ainda está presa, seria a responsável pela parte de Sabine.
O intrincado caso veio à tona em agosto de 2022, quando a polícia realizou a Operação Sol Poente, nome de uma das mais famosas pinturas de Tarsila do Amaral, roubada pela quadrilha juntamente com mais 15 quadros pertencentes à coleção Boghici. Na ocasião, foram presas a filha do marchand, Rosa e mais quatro integrantes da família da cigana. O caso foi denunciado pela própria mãe de Sabine, Geneviève Boghici, que denunciou à Delegacia do Idoso ter sido mantida em cárcere privado pela filha e pela falsa vidente por cerca de um ano, além de sofrer maus-tratos, ameaças de morte e ser obrigada a fazer polpudas transferências bancárias sob coação. Além das obras de arte, que incluíam ainda peças assinadas por artistas como Di Cavalcanti e Victor Brecheret, o golpe envolveu remessas de mais de 9 milhões de reais e o roubo de joias.
Seis dias após a morte de Sabine, a defesa de Geneviève fez uma petição à polícia na qual menciona desconfianças em torno da morte da herdeira do marchand, que se identificava nas redes sociais como atriz, dubladora e defensora dos animais. Entre as suspeitas levantadas no documento estão que ela, antes da morte, vinha sofrendo agressões, tendo seus passos controlados e até sendo dopada pelos parentes de Rosa. E ainda sugeria a necessidade de uma exumação do corpo. A família de Sabine tenta ainda anular o casamento dela com a cigana. Procurada, Catarina Stanesco não se pronunciou sobre as suspeitas.