Os trabalhos de recuperação da fachada do Pátio do Colégio, em São Paulo, pichada na madrugada do dia 10 de abril, foram iniciados nesta segunda-feira, 16. Segundo a Companhia de Jesus, responsável pelo prédio, ao menos 100 voluntários participam do mutirão de pintura, que deve durar uma semana.
Como se trata de uma reprodução da escola jesuíta original, refeita na década de 1970, não serão necessários cuidados especiais de restauração. Serão encarados como patrimônio apenas elementos arquitetônicos como os frontões, o beiral de pedra, os azulejos e a parte de madeira das janelas.
O advogado Gustavo Luiz Costa, 29 anos, é um dos voluntários. “Uma hora depois que eu vi a pichação, liguei para o Pátio oferecendo ajuda, mas não só em meu nome, porque aqui no centro tem os jogadores de Pokémon Go, em média 200 jogadores, e o grupo todo se prontificou a ajudar”, disse ele, que teve a liberação do chefe no escritório de advocacia para participar da ação na manhã desta segunda-feira.
O rapaz relatou que não tem experiência em pinturas, mas que recebeu as orientações das arquitetas responsáveis. “A gente precisa fazer acontecer. Só se lamentar não ajuda em nada”.
O padre Carlos Alberto Contieri, diretor do Pátio do Colégio, conta que foram muitas as manifestações de solidariedade e, por isso, decidiram fazer a obra por meio de um mutirão.
“Todo o trabalho é voluntário, absolutamente gratuito e todo o material que nós precisaremos, cujo levantamento está sendo feito, tem sido adquirido através de doação, seja do material, seja financeira”, explicou. Segundo ele, ainda está sendo calculado o custo da recuperação.
A iniciativa contou também com a colaboração de empresários. A consultoria da arquiteta Ana Pecoraro, especializada em patrimônio histórico, também foi oferecida gratuitamente. Ela é responsável pela restauração da única peça original do conjunto arquitetônico, uma parede de taipa do século 16, que fica exposta no interior do prédio.
Investigação
Na sexta-feira (13), a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que foram interrogados dois dos três investigados pelo crime ambiental de pichação. Foi escrito em letras vermelhas “olhai por nois” [sic]. Durante o interrogatório, os suspeitos alegaram motivação ideológica para a ação. Eles também assumiram a autoria de pichações do Monumento às Bandeiras e da Estátua de Borba Gato.
Sobre as motivações ideológicas, o padre Contieri considera que há desconhecimento histórico. “Eu só posso dizer que está baseada numa ideologia barata e na ignorância histórica total. Talvez quem faz esse tipo de afirmação precisaria olhar e aprofundar a própria visão e o seu conhecimento histórico. Se eles soubessem que os jesuítas, por exemplo, no século 16, quando do início da colonização, foram os únicos que se levantaram para defender os índios e não permitir que os índios fossem escravizados pelos colonos…”, relembrou o padre. Ele criticou ainda que as pichações estavam sendo fotografadas para venda na internet, segundo mostraram as investigações.