Cientistas iniciaram nesta quarta-feira um projeto ambicioso, cujo objetivo é tirar a primeira foto de um buraco negro na história. Até 14 de abril, astrônomos do mundo inteiro vão apontar seus potentes telescópios para um dos maiores buracos negros conhecidos, Sagitário A, que fica no centro da Via Láctea e é quatro milhões de vezes mais massivo do que o nosso Sol. Ao conectar observatórios em oito pontos do globo, o resultado é um telescópio gigante, batizado de Event Horizon Telescope, que tem praticamente o tamanho da Terra. Ele é tão potente que consegue observar até “as costuras de uma bola de beisebol a 8.000 milhas (o equivalente a 12.874 quilômetros) de distância”, como descreve o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, na sigla em inglês), uma das instituições ligadas ao projeto.
“Essas observações vão nos ajudar a classificar todas as teorias malucas sobre buracos negros – e há muitas delas”, disse Gopal Narayanan, professor de pesquisas astronômicas na Universidade de Massachussets Amherst, nos Estados Unidos, em comunicado. Os cientistas esperam com o projeto conseguir coletar dados suficientes para submeter a Teoria da Relatividade Geral de Einstein ao seu teste final, comprovando-a definitivamente. Além disso, as informações também podem ajudar a compreender como as galáxias evoluíram e testar a teoria descrita por Stephen Hawking de que os buracos negros estariam perdendo matéria ao longo do tempo.
O que os cientistas estão tentando fotografar é o horizonte de eventos do buraco negro, a fronteira de “não-retorno” que o delimita. Como nem a luz é capaz de escapar desse ponto e acaba sendo sugada também, os buracos negros são, por definição, impossíveis de serem vistos por humanos. Sua gravidade é tão intensa que eles tendem a ficar rodeados de outras matérias que emitem luz, como estrelas – isso, no entanto, torna o buraco ainda mais escuro e difícil de ser observado. Além disso, o maior problema em tentar detectá-los é que, mesmo os maiores, como Sagitário A, ainda são considerados pequenos para serem captados por telescópios isolados.
É por esses fatores que, quando se trata de procurar por buracos negros, os astrônomos normalmente tentam uma observação indireta, procurando por evidências dos efeitos da sua gravidade e radiação. Uma técnica comum é olhar para as órbitas de estrelas e gás que costumam circular os pontos escuros no céu, como mostra o vídeo abaixo, com imagens reais do Observatório do Sul Europeu (ESO, na sigla em inglês).
Como fotografar um buraco negro
Segundo nota publicada pela revista Nature, Sagitário A é tão pequeno (em termos astronômicos) e rodeado de objetos brilhantes que será necessário um telescópio 1.000 vezes mais potente do que o Hubble para fotografá-lo – requisito que o Event Horizon Telescope deve cumprir, acreditam os cientistas. Se, normalmente, telescópios convencionais utilizam espelhos cada vez maiores para observar distâncias mais longas, é possível que um telescópio que vai de norte a sul no nosso planeta dê conta de capturar uma foto de um buraco negro que fica a 26.000 anos-luz (cada ano-luz corresponde a 9,46 trilhões de quilômetros) da Terra. “É como tentar fotografar uma uva na superfície da Lua”, afirma Narayanan. O projeto conta com observatórios no Havaí, México, Chile, França, Espanha, Antártica e dois estados dos Estados Unidos.
Seguindo a teoria proposta por Einstein, uma sombra deve existir em torno do buraco negro. Se essa hipótese estiver correta, os cientistas acreditam que, captando ondas de rádio e convertendo-as em imagens que podemos ver, seria possível fotografá-la. Com essas observações, os astrônomos poderiam determinar a massa, o giro e outras características de buracos negros supermassivos com maior precisão. Eles também esperam aprender mais sobre os acúmulos de materiais que ocorrem em torno dos buracos negros, e a mecânica dos jatos de plasma que explodem desses gigantes que engolem a luz.
Ainda que o sucesso – ou fracasso – desta missão esteja para ser determinado dentro de poucos dias, os cientistas ainda vão demorar para publicar os primeiros resultados. A quantidade de informações coletadas será tão grande e seria agrupada em arquivos tão pesados que os dados precisarão ser transportados fisicamente, em vez de compartilhados pela internet, dos observatórios para o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, na sigla em inglês), onde serão analisados. Considerando o tempo necessário para terminar toda a investigação, as primeiras descobertas devem ser publicadas em 2018, diz a equipe.