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Botos continuam morrendo e pesquisadores estão sem recursos

Burocracia impede que cientistas enviem para análise na capital paulista amostra de água do Lago do Tefé, que pode estar contaminada

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 out 2023, 18h16 - Publicado em 4 out 2023, 17h46

Já chega a 130 número de botos vermelhos e tucuxis mortos no Lago Tefé, no Rio Solimões, um dos maiores da região amazônica. A primeira baixa foi no dia 23, quando os pesquisadores acharam 19 carcaças de uma população estimada de 900 botos. Para quem está acostumado a vê-los nadando e saltando nas águas abundantes da região, os últimos dias foram de muita tristeza.

O Lago do Tefé tem cerca de 12 quilômetros quadrados de área e geralmente chega a 6 metros de profundidade em média. Com a seca das últimas semanas, as águas aqueceram nove graus e o volume diminuiu pela metade. “Os botos continuam morrendo. É desesperador”, diz Miriam Marmontel, 66 anos, líder do grupo de pesquisa em mamíferos aquáticos amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

O desespero da pesquisadora aumenta a cada minuto, pois os animais continuam morrendo e falta estrutura para que seja possível identificar os reais motivos, que levaram a esse desastre. “Sabemos que não é apenas o aquecimento da água. Suspeitamos de contaminação da água.” Miriam explica que se fosse apenas a elevação da temperatura, os botos teriam escapado para as águas mais frescas do oceano. “Eles são animais inteligentes. E parecem estar meio abobados, desorientados.”

Os pesquisadores estão trabalhando dia e noite, procurando indícios da causa das mortes. As necrópsias das carcaças não revelaram motivos aparentes, por isso as apostas recaem sobre possíveis agentes infecciosos. “E para isso, precisamos analisar a água, o que só pode ser feito em São Paulo.”

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É justamente aí que começa a segunda parte do drama. Trata-se de uma região praticamente isolada. De barco, leva-se dois dias até Manaus. A amostra de água tem validade e 24 horas. No domingo, a equipe conseguiu um helicóptero do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodversidade (ICMBio) para transportar a amostra até o aeroporto da capital do estado e então embarcá-la para São Paulo.

Quando conseguiram alcançar o aeroporto de Manaus, foram tantos os impedimentos burocráticos que não deu tempo. A água estragou e a equipe teve de voltar à Tefé para pegar outra amostra. “Agora conseguimos que um avião do Greenpeace venha buscar um frasco novo.” Os pesquisadores estão em uma batalha contra o relógio. “Minha vida é dedicada aos botos e lontras”, conta ela. Temos aqui os especialistas mais experimentados da área e simplesmente não adianta nada, porque não conseguimos apoio para levar o material para São Paulo.”

Além do trabalho incessante de investigação, há equipes que se dedicam ao monitoramento dos animais vivos e captura dos que estão debilitados. Os resgatados são encaminhados para um barco flutuante com piscina, a fim de protegê-los. “Se for de fato algum agente infeccioso, seria perigoso liberá-los pois contaminaria os animais que estão nos arredores, aumentando ainda mais o problema. Até agora não há registro de mortes nas cidades vizinhas.

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