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Ciência ajuda a identificar soldado morto na Primeira Guerra

Corpo encontrado em 2003 será enterrado com honras em Seattle

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 ago 2024, 20h19 - Publicado em 16 ago 2024, 20h00
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  • Nas primeiras horas de 18 de julho de 1918, a contraofensiva franco-americana contra os alemães começou em Aisne-Marne, no norte da França. A primeira divisão da Força Expedicionária Americana (AEF, em inglês) fez as forças alemãs recuarem, mas não sem perdas significativas.

    Ao final do ataque, mais de 1.000 soldados americanos estavam desaparecidos — e o destino de seus restos mortais era desconhecido. Porém, 85 anos depois, arqueólogos franceses que realizavam trabalhos de resgate antes de uma obra de construção, no que teria sido o centro do campo de batalha, encontraram os restos mortais de dois soldados americanos.

    Um dos dois homens, o soldado Francis Lupo, foi facilmente identificado porque seu nome estava gravado em sua carteira e ele foi sepultado no Cemitério Nacional de Arlington com todas as honras militares em 2006. A identificação do outro homem foi mais difícil. Os restos mortais do soldado Charles McAllister levaram duas décadas para serem identificados. Porém, agora, ele finalmente será enterrado, com as honras militares, em sua cidade natal, Seattle. O enterro será no dia 21 de agosto.

    Em 2004, logo após os corpos serem encontrados, houve tentativas de descobrir a identidade dos restos mortais de Charles McAllister — apelidado de CIL 2004-101-I-02 – mas a empreitada foi considerada impossível na época. Cerca de 14 anos depois, quando se aproximava o centenário da morte do soldado e do fim da Primeira Guerra Mundial, o caso foi reaberto pelo pesquisador Jay Silverstein, um dos exploradores do National Geographic

    Silverstein começou procurando possíveis nomes de soldados dados como desaparecidos na Batalha de Aisne-Marne, assim como datas e locais de morte, pertences e características biológicas.  Dados como esses estão armazenados nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos, mas a filtragem por características específicas, como altura, idade e etnia, não eram uma opção, já que esses documentos não compõem um banco de dados, mas registros isolados de cada soldado. Em outras palavras, Silverstein precisaria ter uma noção clara de quem estava procurando e assim solicitar os documentos referentes a esse indivíduo armazenado nos arquivos. Esta opção era, naturalmente, inviável. 

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    Longo caminho

    O ponto de partida para a seleção dos possíveis nomes foi o local e a data da morte do soldado Francis Lupo, cuja sepultura também continha os restos mortais de McAllister. Partindo da data presumida da morte de Lupo – em torno de 21 de julho de 1918 – foi possível estimar que McAllister havia falecido na mesma época e local.

    A pesquisa avançou com a sobreposição de mapas militares da campanha aos dos locais de recuperação dos restos mortais e aos mapas de batalha, correlacionando-os com o movimento das forças combatentes americanas. Essa estratégia permitiu restringir a lista de possíveis regimentos envolvidos.

    Pistas adicionais vieram de dois botões encontrados no uniforme de McAllister. Um deles exibia a inscrição “WA”, enquanto o outro apresentava um “2” e um “D” divididos por dois rifles cruzados. Essa combinação indicava que o soldado havia sido membro da Guarda Nacional do Estado de Washington, no 2º Regimento, Companhia D, antes de ser nacionalizado para a Força Expedicionária Americana.

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    BOTÕES - Identificação: objetos foram chave para descobrir quem eram o soldado americano
    BOTÕES – Identificação: objetos foram chave para descobrir quem eram o soldado americano (Jay Silverstein/Arquivo Pessoal/The Conversation/Reprodução)

    Outro dado importante foi uma medalha concedida pela campanha de 1916 contra o México. Ao investigar os registros da Guarda Nacional de Washington, verificou-se que os membros do 2º Regimento haviam servido na fronteira mexicana. Com essas informações, foi possível localizar os nomes dos membros considerados desaparecidos na França.

    Ao cruzar o intervalo de datas das supostas mortes com as perdas registradas nos monumentos do campo de batalha americano no cemitério de Aisne-Marne e com os registros da Guarda Nacional de Washington, a lista foi reduzida a apenas quatro homens da Companhia D. O passo seguinte envolveu a coleta dos dados militares desses quatro indivíduos no Centro Nacional de Registros de Pessoal (NPRC, na sigla em inglês).

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    Com os documentos em mãos, a biometria foi utilizada para confirmar a identidade. Apenas um dos quatro soldados correspondia à estatura estimada 1,60 metro: o soldado McAllister. Além disso, sua ficha dentária revelava um padrão singular, com os primeiros e segundos molares extraídos e os dentes do siso intactos, características que corroboram a identificação.

    Encontrando a família

    O passo final para a identificação envolveu a genealogia. Foi encontrado um parente distante em Montana, Estados Unidos. Beverly Dillon, sobrinho-neto do soldado, guardava a última carta escrita pelo tio-avô antes de embarcar de Nova York para a França. A análise do DNA mitocondrial, que é herdado exclusivamente do lado materno, confirmou a compatibilidade entre Dillon e os restos mortais de McAllister.

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    PRIMEIRA GUERRA – Ciência: Charles McAllister finalmente foi identificado (Jay Silverstein/Arquivo Pessoal/The Conversation/Reprodução)
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    Com essas evidências, a identidade do soldado foi enfim confirmada. Ainda assim, um membro da linha masculina da família forneceu uma amostra de DNA nuclear do cromossomo Y, que é transmitido de pais para filhos. A identificação do CIL 2004-101-I-02 foi incontestável, permitindo que o soldado Charles McAllister seja finalmente enterrado em sua cidade natal.

    (Com The Conversation)

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