Um desejo antigo dos cientistas é criar um método simples e barato de capturar o gás carbônico da atmosfera e transformá-lo em combustível, imitando a fotossíntese das plantas. Essa seria a saída mágica para grande parte dos problemas ambientais, já que faria do poluente, uma solução. Os pesquisadores já sabem como fazer para decompor o dióxido de carbono (CO2) em monóxido de carbono (CO), que pode ser combinado a hidrogênio para produzir combustíveis como gasolina ou querosene. Contudo, essa decomposição ainda é cara, longa e requer catalisadores, substâncias que fazem as reações ocorrer com maior velocidade, fazendo com que o processo gaste mais energia do que produza.
Contudo, um artigo publicado na revista científica Nature Energy nesta semana pretende resolver esse problema. Pesquisadores da École Polytechnique Féderale de Lausanne (EPFL, na sigla em francês), na Suíça, criaram um novo catalisador que pretende ser a fundação do primeiro sistema barato e eficiente para separar o CO2 em CO. O componente é formado por óxidos de estanho e cobre, materiais abundantes no planeta, e faz com que, usando água e a luz do Sol, a conversão de dióxido de carbono para monóxido de carbono tenha uma eficiência de 14% — um recorde. Segundo os cientistas, é o primeiro passo para a produção de combustível, de forma barata e limpa, revertendo a produção de gases que contribuem para o efeito estufa.
“Essa é a primeira vez que um catalisador de baixo custo é demonstrado”, afirmou Marcel Schreier, pesquisador da EPFL e um dos autores do estudo, em comunicado. “Poucos catalisadores – exceto os mais caros, como os de ouro ou prata – podem transformar CO2 em CO na água, o que é crucial para aplicações industriais.”
Transformação de CO2 em combustível
O processo que envolve a reação é conhecida como eletrólise – ou seja, a decomposição de um composto, no caso o CO2, por meio da passagem de corrente elétrica na presença de água. O grande problema é que os catalisadores conhecidos até então ou são caros ou decompõem mais moléculas de água que de gás carbônico.
Os pesquisadores suíços descobriram que a adição de estanho a catalisadores comuns de cobre fazia com que a quebra do dióxido de carbono tivesse alta eficiência, ou seja, transformava uma parte considerável do composto em monóxido de carbono. Além disso, decidiram usar a energia vinda de painéis solares, para verificar se a reação poderia ser feita com baixo impacto ambiental. Funcionou.
“Esse trabalho estabelece uma nova referência para a redução de CO2 com a utilização de energia solar”, afirmou o químico Jingshan Luo, da EPFL, coautor do estudo, em comunicado.
A equipe de pesquisadores espera que o novo componente ajude nos esforços globais para a redução de emissões e para a produção sintética de combustíveis fósseis a partir de gás carbônico e água.