Copa: Modelo matemático confirma favoritismo do Brasil, dizem cientistas
Desde 2006, projeto Previsão Esportiva usa inteligência artificial para projetar resultados de competições, principalmente futebol
Época de Copa do Mundo tradicionalmente mexe com o movimento das bolsas de apostas e intensifica os bolões entre amigos e familiares. Vale palpite, “chute”, projeção, afinidade com as seleções. Mas um grupo de pesquisadores de várias universidades brasileiras colocou ciência na paixão e usou inteligência artificial para simular 1 milhão de possibilidades para o torneio deste ano no Catar. O resultado: o Brasil é o favorito a levantar a taça. O projeto Previsão Esportiva, desde 2006, cenários para competições, principalmente futebol, entregando probabilidades de títulos e, para judô, também faz o acompanhamento do desempenho de atletas.
Neste ano, os pesquisadores usaram o maior banco de dados até agora para alimentar o programa de computador (inteligência artificial) e gerar 1 milhão de resultados envolvendo as 32 seleções da Copa do Mundo. E a cada etapa da competição, o quadro é atualizado.
As informações, objetivas, incluem números da Federação Internacional de Associações de Futebol (Fifa), do Ranking Mundial Elo (que desde 1970 faz classificações das seleções de futebol por pontos), o valor de mercado de cada seleção, o poder ofensivo e defensivo, histórico e outros indicadores de desempenho dos atletas. Na avaliação subjetiva, são adicionadas análises de especialistas. Com base nesse conjunto, são desenvolvidos uma formulação matemática e o embasamento estatístico para quantificar as incertezas sobre os resultados das partidas de futebol.
Do total de simulações para a competição no Catar realizadas inicialmente, o Brasil foi campeão 153.178 vezes, totalizando uma frequência de 15%. Logo atrás, ficou a seleção argentina, com 12%; a Bélgica com 9% e a França com 8%. Com a atualização após a primeira etapa da competição, o quadro está: Brasil, com 16,6%, seguido de França (10,6%), Espanha (9,5%) e Inglaterra (9,3%). A Argentina passou para o quinto lugar e a Bélgica para o oitavo.
“Nesta pesquisa, nossa inteligência artificial envolve modelagem estatística e computacional, que oferece capacidade à máquina de prever os resultados de cada jogo. Com isso, simulando uma quantidade muito grande de campeonatos, podemos verificar o caminho das seleções do início ao final da copa. Este tipo de trabalho mostra para a população várias informações sobre o campeonato e que devemos confiar na ciência para toda e qualquer atividade, incluindo esportes. Além de modelagens para futebol, desenvolvemos também modelagem para acompanhamento de judocas, que podem oferecer a um treinador insights interessantes sobre como proceder com a prática para melhorar a performance de um atleta, por exemplo”, explica Francisco Louzada Neto, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) em São Carlos e um dos coordenadores do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fapesp.
Além de pesquisadores do ICMC-USP e do CeMEAI, participam do projeto cientistas das universidades Federal da Bahia (UFBA), Federal do Paraná (UFPR), Federal de São Carlos (UFSCar), da Universidad de Atacama (Chile) e da empresa educacional FLAI.
No início deste ano, Louzada e um grupo de cientistas de dados, incluindo os bolsistas da Fapesp Caroline Godoy e Anderson Ara, foram os vencedores na modalidade judô do Prêmio Esporte Inovação (concurso realizado durante o 2º Congresso Olímpico do Brasil) com o projeto Sistema iSports.
O iSports combina matemática e estatística para coletar e analisar dados em testes planejados para atletas de judô. As informações são reunidas em uma nota que varia de 0 a 100, possibilitando comparar o desempenho de diferentes atletas e também o desenvolvimento de um mesmo esportista ao longo do tempo (leia mais em: agencia.fapesp.br/38247/).
Diversidade de dados
Neste ano, o Previsão Esportiva incluiu nas simulações para a Copa do Mundo as probabilidades etapa a etapa, a quantidade de gols esperados dos possíveis artilheiros e uma entrega interativa dos resultados. Com isso, o usuário pode verificar as probabilidades e seleções favoritas em qualquer possível confronto e também atualizar os quadros conforme a competição avança.
“A modelagem leva em consideração os dados, informações disponíveis em determinado momento. O importante é que ao longo da copa vamos atualizando a modelagem rodada a rodada. Conforme vai diminuindo a variabilidade ao longo do tempo, o modelo dá uma assertividade maior. Existe um processo de acompanhamento em que a modelagem não é estanque”, diz Louzada Neto à Agência Fapesp.
Entre os artilheiros da copa, a projeção aponta para Harry Kane (Inglaterra), Kylian Mbappé (França) e Romelu Lukaku (Bélgica) como os primeiros colocados. Nos resultados, é possível consultar ainda probabilidade de gols por partida e por seleção escolhida.
Nas simulações da primeira etapa, o resultado já apontava que o Brasil, pertencente ao grupo G ao lado de Sérvia, Suíça e Camarões, era o grande favorito da chave. A previsão estimou que a seleção brasileira tinha 63% de chance de passar em primeiro lugar no grupo, com a Suíça em segundo (37% de chance).
Ao analisar as probabilidades de deixar a copa, o Previsão Esportiva aponta que o Brasil corre mais riscos nas oitavas de final, com 28,3% de chance de cair. Nas quartas de final, a taxa fica em 21,4%. Ou seja, mesmo sendo favorita, a seleção brasileira ainda tem obstáculos a enfrentar.