Crânio sugere raízes africanas de ancestrais de humanos e macacos
Restos de 13 milhões de anos encontrados no Quênia apontam para uma criatura anterior aos primatas atuais e semelhante a um gibão
O crânio de um macaco, enterrado por um vulcão no Quênia há 13 milhões de anos, preservou pistas intrigantes sobre os ancestrais que os humanos compartilham com os macacos – incluindo uma provável origem africana, disseram cientistas nesta quarta-feira. A criatura, previamente desconhecida pelos cientistas, compartilhava uma família extensa com o antepassado humano, tinha uma cara plana como a de nosso primo distante gibão, mas não se movia como este, escreveram os pesquisadores na revista científica Nature.
O resto encontrado é o crânio de macaco mais completo de todo o período Mioceno, que ocorreu entre 24 milhões e cinco milhões de anos atrás. Segundo a equipe, a descoberta apoia a ideia de que o antepassado dos macacos e humanos viveu na África, e não na Ásia, como alguns especulam. “Com [esse fóssil], nós colocamos a raiz dos hominoidea na África com mais firmeza”, disse o coautor do estudo, Isaiah Nengo, da Universidade Stony Brook, nos Estados Unidos. Hominoidea, ou hominóideos, é o nome de uma família de primatas à qual pertencem humanos, bonobos, chimpanzés, gorilas e orangotangos, em um grupo, e gibões (Hylobatidae), em outro.
“[O crânio encontrado] pode ser mais jovem [do que algumas outras peças fósseis], mas é o único onde você tem um rosto, a base de um crânio, o interior do crânio, de modo que você pode ver como pode ter sido a aparência de um representante deles”, diz Nengo. A nova espécie pertence a um grupo ancestral muito mais antigo do que os hominóideos, mas que incluía seu antepassado, concluíram os pesquisadores. Os pesquisadores batizaram a criatura de Nyanzapithecus alesi, em referência à palavra “ales” – “antepassado” na língua Turkana do Quênia, onde o crânio, do tamanho de um limão, foi descoberto.
Os restos pertencem a um filhote que teria crescido até pesar cerca de 11 quilos na idade adulta. Ele tinha um cérebro muito maior do que os macacos da mesma época e morreu com apenas um ano e quatro meses, disseram os pesquisadores. “Se você o compara a todos os seres vivos, parece mais um gibão”, afirmou Nengo. Isso não significa que o antepassado direto dos primatas vivos necessariamente se parecia com um gibão. Supor isso, diz o pesquisador, seria algo semelhante a cientistas do futuro descobrindo um crânio de gorila e concluindo que todos os hominóideos se pareciam com gorilas, incluindo os humanos.
Raízes africanas
O grupo ao qual a espécie do fóssil pertence, que ainda não tenha nome oficial, viveu e morreu há milhões de anos. “A maior parte e os membros mais velhos desse grupo são africanos, mas não teríamos conseguido solucionar tudo isso sem o Alesi”, disse Nengo. “Alesi é que nos permitiu saber quem está nesse grupo, e quando olhamos de perto, vemos que a maior parte é encontrada na África”.
Embora se saiba muitas coisas sobre a evolução humana desde que nos separamos dos chimpanzés, há cerca de sete milhões de anos, pouco se sabia sobre os antepassados comuns de antes de 10 milhões de anos atrás.
Esta é uma descoberta de fóssil “que eu nunca pensei que seria feita durante minha vida”, disse a antropóloga Brenda Benefit, da Universidade do Estado do Novo México, que não esteve envolvida no estudo, em comentários publicados pela revisa. “Esta descoberta ajudará a preencher informações que faltam sobre adaptações que influenciam as histórias evolutivas dos macacos e dos humanos.”
(Com AFP)