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Descoberto na Antártica parasita agressivo que se comporta como vírus

Espécie peculiar de archaea infecta outros microrganismos do mesmo domínio, tendo um papel ecológico importante em ambientes extremos

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 ago 2024, 12h42

Nos ambientes mais extremos na Terra – de piscinas naturais super ácidas a fontes hidrotermais no fundo do oceano – vivem formas primitivas de vida chamadas de archaea. São seres unicelulares muito parecidos com as bactérias, mas com estruturas moleculares diferentes e a incapacidade, pelo menos por enquanto, de causar doenças em humanos. Agora, um desses microrganismos, descoberto no em um lago hipersalino da Antártica, se mostrou capaz de se comportar de maneira muito semelhante aos vírus, matando rapidamente o hospedeiro. 

Chamado cientificamente de Candidatus Nanohaloarchaeum antarcticus, esse tipo de archaea faz parte de um grupo conhecido pelo tamanho reduzido e pela simplicidade genômica e metabólica. De acordo com os pesquisadores, ele se mostrou um parasita extremamente agressivo, capaz de infectar outras archaeas mais complexas, levando a quebra da parede celular e, consequentemente, a morte do hospedeiro. 

“Esta é a primeira vez que tal comportamento agressivo foi observado em arqueias”, disse Joshua Hamm, pesquisador do Instituto Real Holandês para Pesquisa Oceânica e autor do artigo publicado na Nature Communication. “De muitas maneiras, a atividade é similar a alguns vírus. Isso nos leva a reavaliar seu papel ecológico no ambiente antártico.”

Um artigo publicado em 2019, no PNAS, periódico da Academia Americana de Ciências, já havia revelado que esse microrganismo tem comportamento semelhante ao dos vírus por precisar entrar em outros seres desse mesmo domínio para conseguir sobreviver. A descoberta mais recente, no entanto, aponta que essas características fazem com que ele tenha um importante papel nesse ambiente.

Conhecido pelo meio agressivo, marcado pela salinidade extrema e por nunca congelar, apesar das temperaturas próximas aos 20 graus celsius negativos, o Lago Profundo (Deep Lake, no nome em inglês) é cheio desses microrganismos. Ao infectar e matar algumas espécies de archaea, o Candidatus Nanohaloarchaeum antarcticus pode ser responsável por controlar seu crescimento e, ao mesmo tempo, aumentar a disponibilidade de alimentos para outros seres microscópicos, já que os fragmentos do hospedeiro ficam a disposição no lago. 

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Qual a importância de estudar archaea?

Esse domínio de microrganismos, embora seja muito semelhante ao das bactérias – ambos seres unicelulares e com reprodução assexuada – apresenta diferenças que faz com que elas ocupem ambientes diferentes e tenham funções distintas na natureza. 

Por não causar grande impacto na humanidade e nos outros mamíferos, esses seres são pouco estudados. “Elas são menos estudadas e compreendidas do que as outras linhagens”, diz Yan Liao, microbiologista e coautor do estudo. “No entanto, as arqueias fornecem pistas sobre a evolução da vida na Terra, bem como sobre como a vida pode existir em outros planetas. Sua bioquímica única também contém aplicações promissoras em biotecnologia e biorremediação.”

Adicionalmente, ele pode ter um impacto importante no aquecimento global, já que é parcialmente responsável por produzir o metano liberado na agropecuária, e pode ser importante para a sobrevivência humana já que está entre os seres que compõem o nosso microbioma.

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