Lonesome George (George Solitário), o último representante da espécie de tartaruga terrestre Chelonoidis abingdonii, morreu em 2012 no Arquipélago de Galápagos, mas sua morte pode ter deixado um inestimável legado embutido em seus genes. Um artigo recém-publicado na revista inglesa Nature informa que no DNA de George podem estar guardados os segredos da longevidade e da resistência a tumores. Não se sabe exatamente com que idade morreu George Solitário — assim chamado porque era o derradeiro exemplar de sua espécie e nunca se conseguiu fazê-lo copular com outras —, mas é certo que tinha mais de 100 anos.
Os cientistas acreditam que um dia será possível replicar em humanos seus invejáveis traços genéticos. “A observação dos animais sempre nos ajudou a iluminar as dúvidas mais intrínsecas da vida. Entendemos com eles de onde viemos e saberemos, em breve, como chegar aonde queremos”, disse a VEJA a coordenadora do estudo, a geneticista italiana Adalgisa Caccone, da Universidade Yale, nos EUA. Os pesquisadores coletaram amostras do réptil e de espécies que vivem em ilhas no Oceano Índico, sequenciaram seus genes e os compararam aos de outras criaturas. Descobriram variantes do DNA que garantem boa saúde. Exemplo: uma mutação do gene IGF1R, recorrente nas tartarugas, também é presente em humanos que morrem em idade avançada. Alterações químicas que simulem essa configuração poderiam, em tese, estender a vida humana. Também se descobriram elementos associados à resistência ao câncer.
A espécie de George Solitário, que chegava a 1,4 metro de comprimento, foi uma das que inspiraram o naturalista Charles Darwin (1809-1882) em sua teoria da evolução em A Origem das Espécies (1859) — e agora está perto de nos ajudar a entender, e estender, a vida humana.
Publicado em VEJA de 19 de dezembro de 2018, edição nº 2613