O ecoturismo de tubarões é uma alternativa interessante para regiões com ampla vida marinha. Nesse tipo de atividade, o turista tem a possibilidade de pagar para mergulhar com tubarões selvagens. A proposta é amplamente disseminada em litorais com grande presença estrangeira, como Austrália, Caribe, Estados Unidos e até mesmo no Brasil. No entanto, um estudo publicado hoje (7) na Scientific Reports revela que esse tipo de prática pode não ser tão benéfica para os animais.
Embora possa ser uma grande aventura para os mergulhadores, a prática pode aumentar a probabilidade de os tubarões-baleia exibirem comportamentos incômodos associados à fuga. As descobertas sugerem que o ecoturismo associado à exploração dos tubarões pode interferir na procura por alimentos e no comportamento reprodutivo desses animais. “Descobrimos que o ecoturismo aumenta a probabilidade de os tubarões apresentarem um estado comportamental perturbado, provavelmente aumentando o gasto energético e potencialmente levando a efeitos ecológicos a jusante”, diz o estudo.
Atualmente, a atividade turística voltada para a interação entre humanos e tubarões movimenta milhões de dólares por ano. Estudos anteriores, porém, já alertavam para o potencial impacto desse tipo de prática, apontando para a diminuição no número de espécies de tubarões em áreas com intensa atividade turística, mas os impactos diretos no comportamento animal não estavam claros até agora.
Os pesquisadores da Universidade de Londres analisaram 39 vídeos aéreos de tubarões-baleia na Baía de La Paz, no litoral mexicano, com o objetivo de avaliar o comportamento dos animais quando nadavam isolados e quando nadavam na presença de turistas. Alguns vídeos demonstraram alterações comportamentais na presença dos mergulhadores. Neles, os tubarões pareciam mais inquietos, gastando mais energia do que quando nadavam sozinhos. Esse dispêndio extra de energia pode ser prejudicial aos animais, dificultando a procura por alimentos e afetando o sucesso reprodutivo.
A pesquisa sugere que as operações de ecoturismo que envolvam o contato direto com tubarões devem avaliar o estado comportamental dos animais antes de incentivar a aproximação dos nadadores e que a distância entre turistas e animais deve seguir protocolos mais rígidos. “Nossos resultados demonstram que as respostas comportamentais ao ecoturismo dependem do contexto, uma vez que o estado comportamental inicial é importante na determinação das respostas à atividade humana”, argumentam. Os autores também sugerem que mais estudos sobre o impacto ecológico do ecoturismo de tubarões devem ser realizados para avaliar adequadamente as consequências da indústria nas diferentes espécies dada a expansão desse tipo de atividade e o debilitado estado de conservação de diversas espécies de tubarão.