Há pouco menos de dois anos, quando uma barragem se rompeu na cidade mineira de Brumadinho, os prejuízos resultantes foram de todos os tipos. Além dos 270 mortos, o ecossistema da região foi profundamente impactado pelo tsunami de rejeitos que inundaram a cidade, destruindo plantas, exterminando animais e poluindo corpos d’água.
Com o objetivo de ajudar a restaurar a biodiversidade de Brumadinho, a Vale, empresa responsável pela barragem destruída, criou o Projeto Sementes de Brumadinho. Por meio dessa iniciativa, diversas equipes trabalham para o reflorestamento da área. Até agora, cerca de 600 quilos de frutos e sementes de 80 espécies diferentes foram coletados, produzindo aproximadamente 200 mil mudas.
Um dos participantes do projeto é Salvador da Silva, de 56 anos. Apelidado de Guardião das Sementes, Salvador conversou com VEJA sobre o trabalho que realiza todos os dias e a importância de ajudar a fauna e a flora locais a se recuperarem.
O senhor perdeu alguém com o rompimento da barragem em 2019?
Felizmente, não. Ainda assim, fiquei muito traumatizado com a quantidade de vidas perdidas e com o impacto negativo que o evento teve na natureza. A minha dor é a dor de todos cujos parentes foram perdidos nesse desastre.
Como é fazer esse trabalho?
Encontrei muita felicidade em coletar as sementes, já que é algo que considero muito importante e bonito. É com enorme prazer e esforço que presto esse serviço. Meu objetivo é resgatar essas sementes, plantas e árvores, algumas das quais estão em extinção e já conseguimos resgatar. Monitoramos essas espécies para garantir que elas não desapareçam. É de coração que faço esse trabalho, tentando fazer com que sementes se transformem em plantas que ajudem a recuperar a área degradada.
Qual a importância de coletar e replantar essas espécies de plantas?
Alguém tem que arregaçar as mangas e cuidar do sofrimento da natureza, e sou parte dessa equipe. Tenho muito orgulho disso. É algo muito interessante de acompanhar, e fico muito orgulhoso de todos nós. É um prazer participar disso e saber que, em dez ou quinze anos, pessoas apreciarão o trabalho que fizemos. Mas o mais importante é ver na própria natureza o fruto desse nosso trabalho.