Que a humanidade nasceu na África é um fato amplamente conhecido, mas a trajetória que levou à evolução dos Homo sapiens ainda é uma incógnita para a ciência. Um estudo divulgado na Nature na última semana começa a dar pistas de como isso ocorreu.
Acreditava-se que os primeiros humanos haviam surgido na África oriental, há 200 mil anos. Essa ideia, contudo, foi revista quando, em 2017, pesquisadores descreveram o fóssil mais antigo descoberto até hoje – com cerca de 315 mil anos de idade. O mais curioso é que o esqueleto ancestral foi desenterrado em sítio arqueológico de Marrocos, do outro lado do continente.
O achado sugeriu que os Homo sapiens não se originaram em uma única região, mas ao longo de toda a África. O estudo mais recente aponta na mesma direção. De acordo com os resultados, o surgimento da espécie humana, de fato, contou com a contribuição de grupos ancestrais de diversas regiões africanas diferentes.
A escassez de fósseis humanos descobertos até agora impediu que rastros da passagem dos Homo sapiens pelo continente fossem conectados entre si, mas os avanços tecnológicos na ciência permitiram o preenchimento dessa lacuna.
Para isso, os pesquisadores utilizaram a genética. Eles examinaram dados obtidos de 290 pessoas de quatro regiões africanas diferentes. Esses dados foram comparados entre si e com informações obtidas de indivíduos europeus ou neandertais para identificar similaridades e diferenças ancestrais entre eles.
Os resultados sugerem que haviam seres humanos espalhados em diversas áreas diferentes do continente. Esses grupos migravam com frequência e se misturavam uns aos outros, o que foi responsável pela variabilidade genética observada entre os humanos contemporâneos.
Estudos posteriores tentarão reforçar essas evidências e traçar de maneira ainda mais específica a trajetória humana até aqui.