O Centro de Fertilidade de Newcastle, no Reino Unido, se tornou nesta quinta-feira o primeiro da nação a obter autorização para usar técnica de fertilidade que envolve três progenitores – o pai, a mãe e uma doadora do sexo feminino –, a fim de prevenir doenças hereditárias. Cientistas defensores do procedimento afirmam que ele permite que pais com mutações genéticas raras concebam filhos sãos.
O Reino Unido se tornou o primeiro país do mundo a legalizar o procedimento, quando o parlamento aprovou a legislação em dezembro de 2016. Porém, o primeiro bebê concebido com a ajuda do tratamento nasceu em setembro do ano passado, no México. A técnica foi utilizada por cientistas americanos para evitar que a criança nascesse com síndrome de Leigh, uma desordem mortal que afeta o sistema nervoso. Embora nos Estados Unidos o procedimento seja proibido, no México não há restrições.
Chamada de Terapia de Reposição Mitocondrial (MRT, na sigla em inglês), a técnica mistura o DNA mitocondrial de uma doadora saudável com o núcleo do óvulo da mãe. É nesta célula reprodutora que está o DNA responsável por nossas características físicas e a maior parte das condições de saúde. Com isso, os médicos esperam conseguir evitar doenças como problemas cardíacos, insuficiência hepática, distúrbios cerebrais, cegueira e distrofia muscular hereditária.
O centro de fertilização, no entanto, não poderá avançar com a técnica até que um pedido de um paciente individual tenha sido aprovado. “Esta decisão representa o ponto alto de muitos anos de trabalho duro de pesquisadores, especialistas clínicos e reguladores”, disse Sally Cheshire, chefe da Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia (HFEA, na sigla em inglês) do Reino Unido. “Os pacientes agora poderão se candidatar individualmente ao HFEA para serem submetidos a um tratamento de doação mitocondrial em Newcastle. Será uma mudança de vida para eles, conforme procuram evitar transmitir doenças genéticas graves para as gerações futuras.”
As autoridades de saúde do país estimam que cerca de 125 bebês nascem com tais mutações no Reino Unido todos os anos. Cerca de 3.000 famílias britânicas poderiam se beneficiar desse tratamento, mas Cheshire disse que acredita que “muitos não se apresentarão”, pois o tratamento permanece controverso em vários países do mundo.
A Igreja Católica Romana se opõe ao tratamento, indicando que isso envolveria a destruição de embriões humanos como parte do processo. A Igreja da Inglaterra disse que as preocupações éticas “não foram suficientemente exploradas”.
Cientistas de Newcastle e outras entidades, no entanto, afirmam estar otimistas. “Este anúncio dá uma esperança (…), conforme todos nós nos esforçamos para ajudar essas mulheres”, afirma Meenakshi Choudhary, ginecologista consultora na clínica. Adam Balen, presidente da Sociedade de Fertilidade Britânica, por sua vez, avaliou que foi “um passo histórico para erradicar as doenças genéticas”.
(Com AFP)