Inspirado em Duna, novo traje recicla urina de astronautas
Com menos de oito quilos, sistema é capaz de renovar estoque de água potável nas vestimentas espaciais
Quando se fala em viagens espacial, é comum ignorar o fato de que, independentemente da duração da viagem, será preciso lidar com dejetos humanos – e considerando ambientes inóspitos, como Lua ou Marte, muitas vezes será necessário reciclar essas excreções. Pensando nisso e inspirada nos trajes de Duna, uma pesquisadora brasileira desenvolveu um pequeno equipamento capaz de purificar urina em água potável.
A ideia do protótipo foi publicada recentemente, no periódico científico Frontiers in Space Technologies, e pesa cerca de oito quilos. “O projeto inclui um cateter externo baseado em vácuo que leva a uma unidade combinada de osmose reversa direta, fornecendo um fornecimento contínuo de água potável com múltiplos mecanismos de segurança para garantir o bem-estar dos astronautas”, disse Sofia Etlin, membro da equipe de pesquisa da Universidade Cornell e autora do estudo, em comunicado.
Como funciona o traje?
Pensado para funcionar de maneira automatizada, o aparelho consiste em um coletor de silicone que pode ser moldado a depender da anatomia do astronauta. Ao entrar em contato com a urina, um pequeno sensor ativa uma bomba de vácuo que leva o líquido para o purificador, que pode ser carregado como uma mochila. Em cinco minutos, o equipamento é capaz de purificar meio litro de urina em água potável com uma eficiência de 87%.
Essa ideia é muito bem vinda. Hoje, a urina dos astronautas na Estação Espacial Internacional é inteiramente purificada, mas quando eles saem para fazer as chamadas caminhadas no espaço, utilizam trajes que contam com uma fralda (conhecida como MAG, sigla em inglês para roupa de máxima absorção), capaz de reter o líquido e as fezes, mas sem reutilizá-los.
Esse pode ser um problema. “Segundo registros, o MAG já vazou e causou problemas de saúde, como infecções do trato urinário e problemas gastrointestinais”, diz Etlin. “Além disso, os astronautas têm atualmente apenas um litro de água disponível nas sacolas de bebidas dos trajes. Isto é insuficiente para as caminhadas espaciais lunares mais duradouras, que podem durar dez horas e até 24 horas em caso de emergência.”
Qual a utilidade do traje?
À medida que as agências espaciais planejam missões permanentes para a Lua, que devem voltar a acontecer antes do final da década, e missões tripuladas para Marte, planejadas já para os anos 2030, os tradicionais trajes espaciais têm passado por adequações para se adaptar às necessidades emergentes dos astronautas.
O foco do grupo de pesquisa da Etlin é nas empresas privadas. Com um número crescente de missões comerciais, também se torna mais frequente a presença de astronautas não ligados a agências governamentais, que podem se beneficiar de tecnologias como essa, já que o traje é leve e facilmente adaptável.
Agora, novos estudos serão feitos para garantir a eficiência em ambientes que simulam o ambiente espacial. “Nosso sistema pode ser testado em condições simuladas de microgravidade, já que esse é o principal fator espacial que devemos levar em conta”, diz Christopher Mason, coordenador da pesquisa. “Esses testes garantirão a funcionalidade e a segurança do sistema antes de ele ser implantado em missões espaciais reais.”