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Japão permite a criação de embriões híbridos de animais e humanos

Com a meta de criar órgãos para transplante em pessoas, o país se tornou o primeiro a incentivar essa pesquisa. Pode resultar em quimeras da vida real

Por Sabrina Brito Atualizado em 13 ago 2019, 11h53 - Publicado em 13 ago 2019, 11h33

A humanidade pode estar face a face com seu próximo grande dilema bioético. No último dia 26, o governo japonês se tornou o primeiro a permitir e apoiar o desenvolvimento completo de embriões formados por células de duas espécies distintas. Em março, o ministro da educação e ciência do Japão reformulou as regras vigentes, que proibiam o desenvolvimento de embriões desses seres para além de 14 dias. A aprovação final da alteração é esperada para este mês. A questão central: o ato permissivo libera também a mistura com células humanas.

Como consequência da mudança no regulamento, uma equipe de cientistas liderada pelo médico japonês Hiromitsu Nakauchi, das universidades de Tóquio (Japão) e Stanford (Estados Unidos), pretende cultivar células humanas em embriões de ratos e camundongos e, mais tarde, porcos. O objetivo final é gerar animais com órgãos formados por células humanas que possam posteriormente ser colocados em pessoas que precisem deles.

O uso de roedores é apenas um passo inicial, já que os órgãos neles desenvolvidos seriam pequenos demais para uso humano. Já as partes do corpo de suínos se aproximam mais às nossas. Os avanços na área podem resultar, em um futuro não tão distante, em uma forma segura e prática de fornecer órgãos aos necessitados — só no Brasil, são mais de 30.000 nomes na fila por um transplante.

Funciona assim: os pesquisadores criam um embrião, do qual excluem a informação genética necessária para desenvolver um certo órgão. Assim, o animal se torna incapaz de desenvolvê-lo. Depois, os cientistas injetam células-tronco humanas pluripontentes (capazes de se transformar em quase qualquer tipo de célula) nesse embrião. Conforme o animal se desenvolve, seu corpo utiliza o material genético humano para ‘construir’ o órgão em questão. Assim, forma-se um órgão essencialmente humano, mas criado em outro ser. Esse ser é chamado de quimera humano-animal, pois, assim como a figura mítica (que mistura partes do corpo de leão, cabra, dragão e serpente), contém partes de mais de um animal.

Mas, como costuma suceder com grandes avanços científicos, questões bioéticas acompanham de perto os possíveis avanços da decisão japonesa. São muitas as preocupações com as implicações do anúncio japonês.

Uma delas é de que a presença de células humanas em um outro animal possa não se restringir apenas ao órgão selecionado pelos cientistas. O que aconteceria se o material genético humano se espalhar de forma imprevisível pelo corpo do outro ser e acabar em seu cérebro? Será que a cognição desse animal seria prejudicada pela informação genética humana? Ademais, há quem questione o fato do ser humano ter o direito de alterar o curso da vida desses seres.

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