O lixo plástico é, hoje, uma questão emergente ainda sem solução. Das mais de 9,2 bilhões de toneladas desse elemento produzidas em sete décadas, mais de 70 por cento foi parar em lixões e aterros, onde podem levar algo entre 20 e 500 anos para se decompor. Por onde começar, então, a resolver essa questão? Para tentar responder essa pergunta, pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, criaram um inventário que revela detalhes sobre a produção desse tipo de resíduo no mundo.
Publicado nesta quarta-feira, 4, na Nature, o trabalho joga luz sobre as emissões, revelando uma diferença importante no padrão de geração de resíduos: nos países ricos, a principal fonte desse lixo está no descarte incorreto, enquanto nos países pobres e emergentes, a falta de coleta é o motivo por trás da poluição plástica.
Os números refletem a produção de 2020 e foram feitos com base em levantamentos reais e modelos computacionais. “Os dados disponíveis cobriam áreas onde vive apenas 12,2% da população mundial, então os autores extrapolaram a cobertura global utilizando aprendizado de máquinas e modelando a forma como o plástico se movimenta na sociedades”, diz Matthew MacLeod, pesquisador do departamento de Ciências Ambientais da Universidade de Estocolmo, em um artigo complementar. “O inventário não é o primeiro do gênero para emissões de plástico, mas tanto sua amplitude quanto sua resolução o diferenciam de seus antecessores.”
Mais de 50 mil cidades foram cobertas pela análise e a estimativa aponta que cerca de 51,1 milhões de toneladas de plástico – sem levar em consideração os microplásticos – foram descartados no meio ambiente. Desde, cerca de 57% foram queimados a céu aberto, enquanto o resto ficou depositado como resíduo sólido. O trabalho ainda mostrou que as regiões com maior produção desse resíduo são o Sul da Ásia, África Subsaariana e Sudeste Asiático, sendo a Índia o país com a maior geração de lixo plástico – o equivalente a quase 20% de toda a produção global.
Qual a melhor solução para o lixo plástico?
Esses resultados devem servir para embasar políticas públicas, em especial com a aproximação da reunião das Nações Unidas, em Busan, na Coreia do Sul, no próximo 25 de novembro, para formular um tratado global para acabar com a poluição global. MacLeod, no entanto, acredita ser pouco provável que a gestão de resíduos, sozinha, seja suficiente para lidar com essa questão.
Ele interpreta, a partir dos dados do artigo, que a maior fonte de lixo, hoje, é a falta de coleta nos países pobres e emergentes. No entanto, a coleta, somente, provavelmente levaria a queima dessa lixo ou a criação de mais lixões, o que não resolveria, de fato, o problema e, potencialmente, pioraria fatores relacionados às mudanças climáticas.
“Uma conclusão naturalmente tirada do inventário é, portanto, que a gestão de resíduos por si só dificilmente será uma resposta segura e eficaz ao problema da poluição plástica”, diz o pesquisador. “Isso significa que estabelecer metas para limitar a produção e o consumo de plástico virgem produzido a partir de matéria-prima de combustíveis fósseis é a única estratégia racional para lidar com a poluição plástica no ambiente global.”