No dia 18 de julho de 2011, o céu do Marrocos foi riscado por um meteorito que aterrissou próximo no deserto e logo foi resgatado para estudos. Batizado de Tissint em referência a uma aldeia próxima do local da queda, a rocha ígnea é uma shergotita, que cristalizou em Marte há cerca de 575 milhões de anos. Uma equipe de pesquisadores liderada por Philippe Schmitt-Kopplin, da Universidade Técnica de Munique e da Helmholtz Munich, e por Andrew Steele, da Carnegie Institution for Science, descobriu que ela contém uma enorme diversidade de compostos orgânicos. O trabalho foi publicado na Science Advances.
Esta amostra de rocha marciana, uma de cinco do mesmo tipo existentes, foi lançada ao espaço por um evento violento. Os pesquisadores conseguiram analisar o inventário orgânico do meteorito, revelando uma ligação entre o tipo e a diversidade de moléculas orgânicas e a mineralogia específica. Desvendar as histórias de origem dos compostos orgânicos do meteorito Tissint pode ajudar os cientistas a entender se o Planeta Vermelho já hospedou vida, bem como a história geológica da Terra.
Moléculas orgânicas contêm carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre e, às vezes, outros elementos. Compostos orgânicos são comumente associados à vida, embora pesquisas anteriores com meteoritos marcianos tenham demonstrado que eles podem ser criados por processos não-biológicos. Este trabalho revelou detalhes sobre como os processos que ocorrem no manto e na crosta de Marte evoluíram, especialmente no que diz respeito aos compostos orgânicos abióticos formados a partir de interações água-rocha.
“Marte e a Terra compartilham muitos aspectos de sua evolução”, disse Schmitt-Kopplin. “E enquanto a vida surgiu e prosperou em nosso planeta natal, a questão de saber se ela já existiu em Marte é um tópico de pesquisa muito quente que requer um conhecimento mais profundo da água, moléculas orgânicas e superfícies reativas de nosso planeta vizinho.”
Chamou o interesse dos cientistas a abundância de compostos orgânicos de magnésio, um conjunto de moléculas orgânicas não vistas anteriormente em Marte, que oferece novas ideias sobre a geoquímica de alta pressão e alta temperatura que moldou o interior profundo do Planeta Vermelho e indica uma conexão entre seu ciclo de carbono e sua evolução mineral.
“Entender os processos e a sequência de eventos que moldaram essa rica abundância orgânica revelará novos detalhes sobre a habitabilidade de Marte e, potencialmente, sobre as reações que podem levar à formação da vida”, acrescentou Steele, que fez uma extensa pesquisa sobre material orgânico em Marte.
Os pesquisadores dizem que as amostras trazidas de Marte por futuras missões devem fornecer uma quantidade sem precedentes de informações sobre a formação, estabilidade e dinâmica de compostos orgânicos em ambientes marcianos reais.