Stephen Hawking, o físico genial que apresentou as maravilhas e os mistérios da ciência a milhões de leitores e desenvolveu estudos pioneiros sobre o universo, morreu nesta quarta-feira, aos 76 anos, em sua residência em Cambridge, na Grã-Bretanha. Hawking sofria desde os 21 anos de idade de uma doença degenerativa chamada esclerose lateral amiotrófica (ELA), que paralisou seus movimentos e até sua voz, confinando-o a uma cadeira de rodas pelo resto da vida – mas que não limitou seu brilhantismo e sua curiosidade, que o impulsionaram até o fim a buscar respostas para as grandes questões da ciência.
A morte do físico britânico foi confirmada em uma nota divulgada por seus filhos, Lucy, Robert e Tim. “Ele era um grande cientista e um homem extraordinário cujo legado viverá por muitos anos. Sua coragem e persistência com seu brilhantismo e humor inspiraram pessoas ao redor do mundo.” O comunicado não detalhou a causa da morte.
As contribuições do físico britânico
A enorme contribuição de Hawking para a ciência veio em duas frentes. Na divulgação científica, introduziu a cosmologia ao público leigo com livros que explicaram o mundo fascinante da astrofísica com uma linguagem acessível e apelo pop como O Grande Projeto (2010), O Universo numa Casca de Noz (2001) e, principalmente, Uma Breve História do Tempo (1988), um best-seller que vendeu mais de 10 milhões de cópias ao redor do planeta. Na área acadêmica, desenvolveu estudos sobre gravidade, teoria quântica, relatividade e, acima de tudo, buracos negros.
Encantado pelos mistérios do universo, o próprio Hawking era um mistério para a medicina. Com base em casos semelhantes, os médicos lhe deram poucos anos de vida depois do diagnóstico da doença. Erraram por muito. A ELA, porém, deixou o físico incapaz de se mover. Quando Hawking alcançou o estrelato, após a publicação de Uma Breve História do Tempo, já não tinha capacidade nem de falar – e “sua voz”, que se tornaria mundialmente conhecida, seria o som metálico do sintetizador usado para ler o que ele digitava.
O estrelato de Hawking
O próprio astrofísico atribuía sua notoriedade a essa condição. “As pessoas são fascinadas pelo contraste entre minhas capacidades físicas extremamente limitadas e a imensidade do universo de que trato”, explicava, com boas doses de modéstia e humor.
Talvez o cientista mais célebre desde Albert Einstein, Hawking sabia – e aparentemente gostava de – ser uma celebridade da cultura pop. Teve participação especial em séries como Os Simpsons, Futurama, Star Trek e Big Bang Theory, estrelou um documentário premiado e foi tema de um filme de Hollywood, e adorava dar declarações bombásticas – como quando afirmou que Deus não tem lugar nas teorias para a criação do universo ou que os humanos devem evitar o contato com ETs para sua própria sobrevivência – e fazer apostas públicas com outros cientistas renomados – em 2012 perdeu 100 dólares quando o bóson de Higgs foi detectado.
Para o astrônomo Martin Rees, que o conheceu quando ambos cursavam doutorados na Universidade de Cambridge, Hawking “se tornou possivelmente o cientista mais famoso do mundo, aclamado por suas pesquisas brilhantes, por seus livros best-sellers e, acima de tudo, por seu assombroso triunfo ante a adversidade”.
Rees, ex-presidente da Royal Society, uma das instituições científicas mais antigas e prestigiosas do mundo, na qual Hawking foi admitido em 1974, com apenas 32 anos, destaca, no entanto, que o sucesso entre o grande público não deve ofuscar as importantes contribuições de Hawking ao mundo da ciência pura, em particular nas áreas dos buracos negros, relatividade e gravidade. “Indubitavelmente ele fez mais que qualquer um desde Einstein para melhorar nosso conhecimento sobre a gravidade”, declarou o astrônomo a VEJA, em 2012.