Cálculos realizados pela Nasa, a agência espacial americana, estimam em 25 000 o número de asteroides próximos da Terra. Vez ou outra, algum deles cai sobre o planeta. Em 15 de fevereiro de 2013, uma pedra com 18 metros de diâmetro atingiu a cidade de Chelyabinsk, na Rússia. O evento gerou uma onda de choque que feriu 1 200 pessoas e provocou danos materiais de 30 milhões de dólares. Nos próximos anos, é certo que, em menor ou maior grau, novas colisões aconteçam. Um possível impacto está previsto para ocorrer entre 2048 e 2057, quando o asteroide VK184 passar pela órbita terrestre. Felizmente, não há previsão sobre a repetição da tragédia de 66 milhões de anos atrás, quando um meteorito de 10 quilômetros de diâmetro despencou sobre a Península de Yucatán, no México — de uma hora para outra, três quartos de todas as espécies de animais e plantas foram eliminados, incluindo os dinossauros. Diante de tudo isso, uma façanha realizada pela Nasa há alguns dias pode ser considerada, de fato, extraordinária. Graças à inédita operação, agora a humanidade poderá dormir um pouco mais tranquila.
Na segunda-feira 26, uma espaçonave enviada pela agência há dez meses se chocou contra o pequeno asteroide Dimorphos. Com apenas 163 metros, ele faz parte do sistema Didymos, nome de outro corpo celeste bem maior, de 780 metros de diâmetro. Nenhum dos dois oferece perigo. Na verdade, o objetivo dos cientistas era testar a capacidade de acertar um alvo a 11 milhões de quilômetros de distância e provocar uma alteração na órbita original. Transmitido ao vivo no canal da Nasa no YouTube, o impacto foi assistido por milhões de pessoas. O espetáculo grandioso entrou para a história, mas sua real eficácia será conhecida apenas daqui a algum tempo — a data exata não foi definida —, quando a Nasa saberá se a rota do asteroide foi alterada, conforme previsto, em 1%. Apenas isso? Sim, uma pequena mudança de rumo já seria suficiente para provar que é possível, com a tecnologia atual, desviar ameaças em vias de colidir com a Terra.
Na última década, a Nasa vem ampliando os investimentos na exploração de Marte. Ao mesmo tempo, mas sem a mesma visibilidade, criou uma célula para estudar mecanismos capazes de reduzir o risco que a colisão de um asteroide traria para o planeta. Conclui-se que atingir em cheio objetos celestes seria a estratégia mais apropriada, e a análise dos testes feitos há alguns dias trará respostas definitivas para o desafio. Em 2016, a agência espacial divulgou um documento informando que monitorava 244 objetos cósmicos próximos da Terra. No futuro, talvez seja o caso de abalroá-los para afastar a possibilidade de que nos atinjam. As ferramentas de monitoramento estão sendo aprimoradas. Em 2026, a Nasa planeja pôr em órbita o telescópio NEO Surveyor, cujo sistema de câmera infravermelha escaneará o cosmos durante doze anos em busca de objetos que ponham o planeta em risco.
O temor de um impacto mortífero está presente na cultura pop. Em 1998, dois filmes, Armageddon e Impacto Profundo, abordaram a tentativa dos humanos de impedir que um meteoro acabasse com tudo, algo mais ou menos parecido com o que a Nasa fez agora. No ano passado, Não Olhe para Cima, da Netflix, mostrou a história de dois astrônomos que tentam, sem sucesso, convencer as pessoas de que a aproximação de um cometa destruirá a Terra. No final, o planeta é devastado pelo impacto. Graças ao avanço da ciência, porém, tragédias assim ficarão cada vez mais distantes, no avesso do negacionismo.
Publicado em VEJA de 5 de outubro de 2022, edição nº 2809