Quando se pensa em gordura corporal, logo vem à cabeça o HDL e o LDL, analisados nos exames de rotina e comumente descritos como colesterol bom e ruim. No entanto, os lipídeos – blocos construtores das gorduras – estão envolvidos em muitos processos do corpo humano e um estudo recente mostra que analisar o perfil dessas substâncias pode revelar importantes detalhes de saúde.
De acordo com o trabalho publicado no periódico científico Nature Metabolism, a maioria das pessoas tem um perfil lipídico específico e estável, ou seja, não muda muito ao longo do tempo, como uma impressão digital. No entanto, doenças e processos biológicos podem provocar variações e isso ajuda na melhor compreensão desses fenômenos.
Para fazer essa análise os pesquisadores utilizaram técnicas de lipidômica, que conseguem traçar um amplo perfil de moléculas lipídicas em um tecido, em 100 participantes que foram acompanhados por até nove meses. Eles catalogaram cerca de 800 lipídeos diferentes e viram que pelo menos metade deles variam quando há resistência à insulina, a principal característica da diabetes. Outros 200 apresentaram variação durante infecções respiratórias virais.
“O lipidoma tem sido difícil de estudar devido à sua complexidade”, afirma a VEJA a co-autora do artigo e pesquisadora da Universidade de Stanford, Si Wu. “Mas a investigação dessas variações pode revelar marcadores de início e desenvolvimento precoce de doenças, além de ajudar na compreensão e no tratamento delas.”
Isso ficou bem claro no estudo. Além de se relacionar com diabetes e infecções, os lipídios também apresentaram variações relacionadas ao envelhecimento (como a diminuição dos ômega-3) e a imunidade. Curiosamente, o processo de resistência à insulina acelerou o aparecimento do perfil de envelhecimento e também apresentou relação com um padrão de lipídios associados a menor resposta a vacinas. Por último, um grupo com nome difícil, chamado de fosfatidiletanolaminas ligadas a éter, apareceram fortemente associados a uma boa saúde, o que pode ser utilizado no futuro para triagem e, possivelmente, suplementação.
Investigar melhor esse tipo de molécula pode trazer ainda mais respostas e ajudar a preencher lacunas que técnicas como a genômica e a proteômica ainda não conseguiram elucidar – ampliando ainda mais o caminho para a medicina de precisão. “A metodologia pode, facilmente, ser aplicada de maneira ampla em outros estudos. Esperamos que tais informações possam fornecer insights sobre processos biológicos, como o envelhecimento, bem como sobre os possíveis papéis dos lipídios na saúde e na doença”, afirma Wu.