A Nasa divulgou nesta segunda-feira uma série de imagens da Terra em que aparecem flashes de luz amarelos refletidos em nosso planeta. Os raios são tão grandes que podem ser vistos do espaço, a mais de 1,6 milhão de quilômetros de distância, onde está posicionado o Earth Polychromatic Imaging Camera (EPIC, na sigla em inglês). Não é a primeira vez que a agência espacial americana registra o fenômeno – raios parecidos já foram capturados em fotos do oceano. Por isso, até agora esperava-se que eles fossem um reflexo da luz do Sol na água. Mas, com a nova imagem, os mesmos flashes foram capturados em terra firme, fazendo com que os cientistas sejam obrigados a rever essa hipótese. A nova teoria para solucionar o mistério atribui as estranhas luzes a elementos a pequenos cristais de gelo horizontais e de grande altitude presentes na atmosfera.
Luzes misteriosas
Em 1993, o astrônomo Carl Sagan reparou pela primeira vez a existência dos flashes. Em um estudo publicado na revista Nature, ele e sua equipe analisavam dados da passagem da nave Galileu pela Terra em busca de algo que representasse um sinal de vida no nosso planeta, mesmo visto de longe. Os cientistas escreveram que “um exame atento das imagens mostra uma região de reflexão especular no oceano, mas não na terra”. Como a teoria de Sagan de que planetas com oceanos líquidos, um dos elementos essenciais para a vida, agiam como um espelho e refletiam a luz era totalmente compatível com o observado, os astrônomos deixaram a história de lado por 24 anos. Mas, quando a Nasa voltou a capturar esses raios, agora no meio do continente, os cientistas pensaram que, talvez, eles não fossem causados por água na superfície do planeta, e sim na atmosfera.
Quando Alexander Marshak, do Centro de Vôos Espaciais Goddard da Nasa, decidiu reunir as imagens usadas por Sagan e compará-las com as fotos mais recentes, ele percebeu que o astrônomo e sua equipe haviam deixado passar alguns detalhes. Pequenos raios de luz também eram observados em terra firme mesmo nas imagens antigas, mas acabaram passando despercebidos por Sagan e seus colegas. Para tentar compreender o estranho fenômeno, Marshak reuniu um time de pesquisadores e catalogou todos os flashes de luz identificados pelas antigas imagens de Galileu e também as de EPIC, feitas entre 2015 e 2016, mapeando suas localizações.
Eles supuseram que, se os reflexos fossem causados pela luz solar refletida, então somente algumas partes do globo poderiam tê-los – os pontos onde o ângulo entre o Sol e a Terra era o mesmo que o ângulo entre a nave espacial e a Terra. Essa disposição permitiria que a espaçonave captasse a luz refletida na forma de um flash. Com as análises, os cientistas perceberam que o padrão, de fato, surgiu. Eles decidiram, então, expandir a investigação para apontar exatamente de onde os reflexos vinham, e a fonte descoberta ficava entre cinco e oito quilômetros acima da superfície – exatamente a região onde as nuvens de tipo cirrus, compostas por um conjunto de cristais de gelo espalhados, se formavam. Quando eles modelavam a direção da luz solar refletindo nos hipotéticos cristais de gelo, que estariam flutuando no ar em um ângulo horizontal, o resultado era exatamente o que mostravam as imagens de EPIC e Galileu.
“A fonte dos flashes definitivamente não está no chão”, concluiu Marshak, em comunicado da Nasa. “É definitivamente gelo e, mais provavelmente, a reflexão solar a partir de partículas orientadas horizontalmente.”
Os resultados ainda não foram publicados em nenhum periódico e precisam passar por revisão. Porém, os pesquisadores continuam investigando a forma como esses cristais de gelo horizontais estão estruturados e se eles têm algum impacto significativo na quantidade de luz solar que é refletida na nossa atmosfera. De qualquer forma, por não representarem água líquida, é pouco provável que estes pequenos cristais sejam o sinal de vida que Sagan estava procurando.