Desde meados de julho, a Antártica é o único continente do planeta ainda não afetado pelo novo coronavírus — o que se deve, é claro, ao seu isolamento do restante do mundo e ao clima inóspito do local. Ainda assim, há pessoas, sobretudo cientistas, na região. Justamente por causa desse isolamento e dos poucos recursos presentes no local, esses indivíduos estarão, ironicamente, bastante vulneráveis em caso de um surto de SARS-CoV-2 no continente.
Anualmente entre o fim de abril e agosto, a Antártica passa por um período de escuridão, sem a presença do sol, o que significa que nenhum navio ou avião pode entrar. Assim, os pouco mais de mil estudiosos que estão atualmente no continente de gelo acabaram assumindo o papel de observadores enquanto o restante do mundo batalhava contra a nova pandemia.
Seria fácil sugerir que essas pessoas permanecessem sozinhas e seguras na Antártica até o fim da pandemia. No entanto, elas precisam de muitos suprimentos para sobreviver em uma região tão hostil. Como a maior parte da comida e combustível havia sido entregue antes da explosão da crise, por ora, não há problema à vista. Entretanto, se as paralisações continuarem, os cientistas podem ter pela frente um futuro de escassez.
Embora exames médicos rigorosos sejam exigidos de todos os moradores temporários do continente, o risco de o coronavírus chegar à Antártica — seja por meio do ar, do contato com pessoas vindas de fora ou dos novos suprimentos que serão entregues, por exemplo — existe. Para tentar diminui-lo, o uso de máscaras e o distanciamento social foram adotados pelas equipes que têm visitado o local.
Se o vírus de fato infectar os visitantes do continente, o resultado pode ser catastrófico. O clima frio é ideal para a propagação de doenças que contam com a fragilidade dos sistemas imunológicos e os cientistas vivem perto uns dos outros, o que facilitaria a contaminação.
Lidar com os contagiados seria bastante desafiador. Algumas das maiores estações possuem respiradores e outros equipamentos respiratórios, mas as mais simples contam apenas com kits de primeiros-socorros, insuficientes para atender os doentes nesse caso.
Por isso, as medidas de redução de disco de contágio serão essenciais para proteger as pessoas vivendo na Antártica. Quando o continente começar a reabrir em um ritmo mais rápido, no fim deste mês, os cientistas terão diante de si a complexa tarefa de enfrentar um inimigo microscópico, invisível. Depois de meses em isolamento, eles serão confrontados com os dilemas e as dificuldades que tomaram conta do planeta já há meses. Resta esperar que eles se saiam melhor do que nós.