Quando você é um astronauta e passa meses no espaço, ir ao banheiro pode ser uma tarefa difícil. Afinal, na ausência da gravidade, usar um vaso sanitário convencional para fazer suas necessidades não parece ser uma boa opção. Por enquanto, a solução tem sido usar fraldas debaixo da roupa. Mas, para encontrar uma maneira menos desagradável e igualmente eficaz de lidar com os dejetos humanos, a Nasa lançou, em outubro de 2016, um concurso intitulado Space Poop Challenge – algo como “desafio do cocô espacial”, em português.
Os participantes deveriam enviar protótipos de roupas espaciais inovadoras que permitissem armazenar urina, fezes e menstruação por até seis dias. Mais de 20.000 pessoas de todas as partes do mundo enviaram suas ideias, resultando em 5.000 protótipos diferentes para lidar com as necessidades dos astronautas. Os vencedores foram anunciados semana passada – e os três primeiros colocados terão seus protótipos desenvolvidos e testados pela Nasa na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).
Com a ajuda da medicina
O primeiro lugar, que recebeu 15.000 dólares (46.000 reais), foi para o cirurgião Thatcher Cardon, oficial da Força Aérea Americana. Seu protótipo consiste em uma roupa com um pequeno compartimento hermético localizado próximo à virilha. Através de uma abertura, o astronauta pode ter acesso a uma variedade de itens, incluindo bacias infláveis e fraldas, que passam pela pequena entrada e se expandem. Seu design ainda permite que o astronauta troque de roupa íntima dentro do traje espacial.
Ele conta que se inspirou em técnicas cirúrgicas pouco invasivas, como a laparoscopia e a artroscopia, utilizadas para fazer operações através de orifícios muitos pequenos. “Com elas é possível até substituir válvulas cardíacas através de cateteres em uma artéria. Então devem ser capazes de manejar um pouquinho de cocô”, disse Cardon à NPR. Ele utilizou um traje de vôo antigo que tinha em casa para montar um protótipo físico e conta que seus filhos ajudaram na montagem. “Eles ficaram loucos quando disse que tinha ganhado.”
Para longe do corpo
O segundo lugar, que levou um prêmio de 10.000 dólares (30.800 reais), ficou com uma equipe formada por um médico, um professor de engenharia e uma dentista. Antes de decidir o design de seu protótipo, o trio teve de descartar várias ideias que consideravam desconfortáveis para os astronautas, incluindo cateteres internos.
A solução que eles encontraram foi um sistema de ar que leva os dejetos para longe do corpo e os armazena em outra parte da roupa. A parte mais inovadora é que o ar utilizado para colocar o sistema em ação vem dos próprios movimentos do astronauta. Segundo os inventores, esse traje também pode ser usado aqui na Terra em idosos ou em pessoas que sofrem de incontinência.
Simples, mas eficiente
O terceiro colocado foi o britânico Hugo Shelley, um desenvolvedor de produtos que normalmente trabalha com eletrônicos e outras engenhocas tecnológicas, mas dessa vez resolveu apostar em um design simples e, principalmente, confortável. Ele levou para casa um prêmio de 5.000 dólares (15.400 reais) pelo SWIMSuit-Zero Gravity Underwear, um traje que desinfeta e armazena os dejetos dentro da própria roupa.
“Ele combina um novo design de cateter para uso prolongado em microgravidade a um mecanismo que comprime, sela e desinfeta resíduos sólidos”, diz Shelley.