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Parasita transmitido por gatos amplifica doenças neurológicas

Proteínas produzidas pelo causador da toxoplasmose podem interagir com genes responsáveis por enfermidades neurodegenerativas e alguns tipos de câncer

Por Da redação
15 set 2017, 17h28

O protozoário Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose e um dos principais parasitas transmitidos de gatos domésticos para humanos, pode influenciar e amplificar o desenvolvimento de sérias doenças neurológicas, como epilepsia, Alzheimer e Parkinson – ou até câncer, em alguns casos. É o que demonstra um estudo conduzido por pesquisadores americanos e publicado nesta quarta-feira na revista Scientific Reports. O objetivo da pesquisa era investigar conexões entre essa infecção crônica e seu potencial para alterar o curso de distúrbios neurológicos comuns.

“Agora nós temos de inserir doenças infecciosas na equação de doenças neurodegenerativas, epilepsia e câncer neural”, afirma em comunicado o coautor do estudo, Dennis Steinler, diretor do Laboratório de Neurociência e Envelhecimento da Universidade Tufts, nos Estados Unidos. “Ao mesmo tempo, temos de transformar aspectos desse estudo em tratamentos preventivos que incluem tudo, de drogas a dieta e estilo de vida, para atrasar a instalação da doença e sua progressão.” O estudo descobriu que proteínas produzidas pelo protozoário, que normalmente é transmitido a humanos pelo contato com fezes e urina de gato ou pela ingestão de carnes cruas, alteram a química do cérebro e influenciam genes relacionados a doenças neurodegenerativas.

Estima-se que dois bilhões de pessoas – quase um terço da população mundial – estejam infectadas com o parasita. A grande maioria, no entanto, não apresenta sintomas, pois seu sistema imunológico é capaz de impedir o desenvolvimento da doença. Mas existem agravantes. Mulheres grávidas, por exemplo, quando infectadas com T. gondii, podem passá-lo para o feto, causando danos severos ao cérebro, olhos e sistema nervoso.

“Nós suspeitamos que [a relação com outras doenças] envolve múltiplos fatores”, diz a líder do estudo, Rima McLeod, professora na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e diretora do Centro de Toxoplasmose da instituição. Ela afirma que as principais questões são as características do próprio parasita, os genes que ele expressa no cérebro infectado, genes que poderiam limitar a capacidade do hospedeiro de prevenir a infecção e os genes que controlam a susceptibilidade a outras doenças presentes no hospedeiro humano. “Outros fatores podem incluir gravidez, estresse, infecções adicionais e um microbioma [conjunto de bactérias e microrganismos benéficos que vivem no corpo humano] deficiente.” Segundo ela, as doenças neurológicas poderiam ocorrer quando há confluência desses fatores.

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Doenças neurodegenerativas

Para verificar essa ideia, Rima reuniu uma equipe de 30 pesquisadores, pertencentes a 16 instituições diferentes, com o intuito de analisar dados do National Collaborative Chicago-Based Congenital Toxoplasmosis Study, uma pesquisa conduzida entre 1981 e 2004 para acompanhar 246 crianças com toxoplasmose congênita, infecção causada pelo T. gondii.

Os resultados mostraram que fragmentos de micro-RNA (moléculas presentes no código genético) e proteínas presentes em crianças com toxoplasmose grave eram compatíveis com biomarcadores encontrados em pacientes com condições neurodegenerativas, incluindo Alzheimer e Parkinson. Eles também descobriram que o parasita poderia aumentar o risco de epilepsia devido a uma interferência na comunicação entre alguns neurônios, além de apontar a existência de ligações entre o T. gondii e quase 1.200 genes humanos conhecidos por desempenhar um papel no desenvolvimento de vários tipos de câncer.

A descoberta dos pesquisadores, no entanto, não significa que o parasita é o fator definitivo que está por trás do aparecimento de doenças debilitantes – porém, é possível que as proteínas do protozoário possam influenciar ou despertar uma susceptibilidade a essas enfermidades que já existia em algumas pessoas.

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