Um perfume romano de mais de 2.000 anos foi descoberto por pesquisadores da Universidade de Córdoba, na Argentina. O aroma foi preservado devido ao recipiente selado em que foi armazenado. Os indícios apontam que a essência de patchouli pertenceu a algum membro da elite romana.
Há 20 séculos, na cidade romana de Carmo, hoje conhecida como Carmona, na província de Sevilha, alguém armazenou uma perfumada fragrância em um recipiente com unguento e a colocou em uma urna funerária. Agora, uma equipe de químicos argentinos, em colaboração com a cidade de Carmona, conseguiu finalmente identificar os componentes da essência produzida no século I d.C.
O recipiente foi encontrado em 2019, em uma escavação de um antigo mausoléu encontrado durante a construção de uma casa. O conteúdo foi armazenado, preservado e solidificado dentro de um vaso esculpido de quartzo, que ainda estava perfeitamente selado. O túmulo possivelmente pertenceu a uma família abastada, e foi usado coletivamente por seis indivíduos (três mulheres e três homens). Além das urnas funerárias, foram encontrados outros objetos relacionados a rituais fúnebres, como oferendas e enxovais.
Em uma das urnas, sobre os restos mortais de uma mulher, que pode ter falecido entre os 30 e 40 anos, foi colocado um saco de pano contendo três contas de âmbar e um pequeno frasco de quartzo hialino esculpido em forma de ânfora, cujo interior foi preenchido com uma pomada.
O material de armazenamento não é comum, e pode ser mais um indício de fortuna. Isso porque, no Império Romano, os recipientes para perfumes costumavam ser feitos de vidro soprado. São raras as ocasiões em que recipientes de pedra entalhada foram encontrados. Essa raridade se deve a sua dureza e a dificuldade em esculpi-lo, o que os tornava muito valiosos e extremamente caros.
Além da singularidade do receptáculo, o aspecto verdadeiramente extraordinário do achado foi o fato de estar perfeitamente lacrado, e de terem sido preservados os resíduos sólidos do perfume em seu interior, o que possibilitou a realização deste estudo. A utilização da dolomite, um tipo de carbono, como rolha, e do betume para a vedação, foram a chave para o magnífico estado de conservação da peça e do seu conteúdo.
Com o auxílio de diferentes técnicas instrumentais, como difração de raios X e cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas, os pesquisadores conseguiram detalhar os componentes do interior do frasco: uma base aglutinante (que permitia a preservação dos aromas) e uma essência. O intrigante composto pode ter sido criação de ninguém menos que Plínio, o velho (23-73 d.C), conhecido como “o apóstolo da ciência romana”.
De acordo com as análises químicas, a base foi feita de um óleo vegetal, possivelmente azeite, embora as conclusões não sejam definitivas. A essência era de patchouli, uma planta de origem indiana que segue sendo amplamente usada na perfumaria moderna, e cujo uso no Império Romano ainda não havia sido documentado. As características monumentais do túmulo onde foi encontrado e, sobretudo, o material de que foi feito o vaso que o continha, sugerem tratar-se de um produto de grande valor. O estudo traz uma nova perspectiva para o que conhecemos sobre a perfumaria romana e estudos adicionais sobre outros materiais únicos (como âmbar, tecidos e pigmentos usados nas pinturas murais) preservados no mausoléu de Carmona estão sendo feitos.