Um estudo publicado nesta quarta-feira na revista Nature afirma que o maior responsável pelo fim da última Era do Gelo foi o dióxido de carbono (CO2), principal gás causador do efeito estufa. A pesquisa traz novos dados para a discussão do que teria provocado o fim das glaciações. Nessa época, após um período de 250.000 anos, a cobertura de gelo terrestre começou a recuar e temperaturas mais quentes ajudaram o Homem a se espalhar e conquistar a Terra.
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ERA GLACIAL
Por Era do Gelo ou Era Glacial entende-se todo período geológico em que ocorre significativa diminuição na temperatura da Terra. Mantos de gelo se expandem pelos continentes e glaciações – períodos de clima extremamente frio – atingem a superfície e a atmosfera do planeta. Nos últimos milhões de anos, a Terra viveu várias eras glaciais, ocorrendo a intervalos de 10 mil a 100 mil anos. A última grande era glacial teve pico há 25.000 anos e terminou 11.000 anos atrás, aproximadamente.
TEMPERATURA MÉDIA DA TERRA
A temperatura média do planeta Terra é 15 graus Celsius. Essa conta leva em consideração a temperatura dos oceanos e a da superfície. O valor é apenas 5 graus acima da temperatura média da última Era do Gelo, há 11.000 anos. É por isso que os cientistas se importam com cada grau a mais na temperatura da Terra. A meta de 2 graus não é nada modesta. Quanto mais quente, mais prejudicados são os ecossistemas. O calor dilataria a água dos oceanos aumentando o volume dos mares, por exemplo. Além disso, se o aquecimento continuar de forma desenfreada, a humanidade pode entrar em um território perigoso e não explorado. Não existe experiência histórica que diga como a vida no planeta se comportaria caso a temperatura média subisse além dos 20 graus, ou seja, 5 graus acima do valor atual.
PLEISTOCENO
O pleistoceno corresponde ao intervalo entre 1,8 milhão e 11.500 anos atrás. Na escala geológica, faz parte do período Quaternário da era Cenozoica. Pássaros e mamíferos gigantes, como mamutes e búfalos, caracterizam essa época. No pleistoceno ocorreram as mais recentes Eras do Gelo.
O estudo foi feito com base em 80 amostras de gelo e de sedimentos coletados em fundos de lagos e leitos marinhos na Groenlândia e em cada continente. Até agora, as principais evidências eram pedaços de gelo coletados na Antártica, cujas bolhas de ar são como uma pequena cápsula do tempo do nosso passado climático.
Para o grupo dos que discordam de que o CO2 seja o principal causador do aquecimento global, esse fenômeno seria causado por mudanças naturais na órbita da Terra, que aproximaram o nosso planeta do Sol. O novo estudo também vai contra essa teoria, afirmando que a mudança orbital apenas deu início a esse processo.
É o que afirma o cientista Jeremy Shakun, da Universidade de Harvard. “As mudanças orbitais foram o gatilho, mas elas não vão muito longe. Nosso estudo demonstra que o CO2 foi um fator muito mais decisivo e realmente impeliu o aquecimento global na última deglaciação”, explica.
Alterações na órbita da Terra – Os autores do estudo publicado pela Nature defendem que a variação orbital intensificou a incidência da luz solar que aqueceu o Hemisfério Norte, fazendo com que parte de sua cobertura de gelo derretesse, liberando gigatoneladas de água doce gelada no Oceano Atlântico. A torrente teve um efeito retardatário sobre a chamada “esteira transportadora” de correntes, na qual a água quente viaja para o Norte na superfície do Atlântico antes de se resfriar, descer às profundezas, e voltar ao Sul.
Quando esta esteira reduziu sua velocidade, a água quente começou a subir no Atlântico Sul, onde rapidamente começou a aquecer a Antártica e o Oceano Austral. Segundo a hipótese destes cientistas, esquentar o Sul, por sua vez, alterou o vento e derreteu o gelo marinho, liberando parte da grande quantidade de CO2 que tinha sido absorvida pelo oceano e armazenado em suas profundezas.
“O CO2 teve grande responsabilidade em tirar o mundo da última Era do Gelo e levou cerca de 10.000 anos para fazê-lo”, afirmou Shakun. “Agora, os níveis de CO2 estão aumentando de novo (…) e há sinais claros de que o planeta está começando a responder”, acrescentou.
(Com Agência France-Presse)