Planta mutante: manipulação genética pode combater disseminação de pragas
Novo método — distinto do usado em transgênicos — está em fase de testes. Expectativa é de que a técnica possa derrubar preços da produção agrícola

Outro extraordinário avanço na ciência agronômica foi anunciado na segunda-feira 8. Pesquisadores da Universidade de Tóquio revelaram a pioneira edição do DNA mitocondrial de plantas. As mitocôndrias, vale lembrar, estão relacionadas à respiração celular. O novo método permite manipular a composição genética para assim aumentar a variedade das espécies. Uma das principais consequências da novidade é tornar mais difícil a disseminação de pragas. Hoje, se uma peste infecta um único vegetal, acaba por alastrar-se rapidamente na lavoura. Com a técnica japonesa, se um exemplar for vulnerável a uma doença, outro do mesmo cultivo, diferenciado pela manipulação genética, não será.
O procedimento é muito distinto do usado em transgênicos, desenvolvidos por engenharia genética desde a década de 70. No novo caso, não há combinação de material genético de espécies distintas. O que se faz é alterar o sequenciamento de cada tipo de planta. Os testes dos cientistas japoneses foram realizados exatamente com os dois tipos de planta mais populares no país deles, o arroz e a canola (da qual se extraem óleos). Embora já se consiga sequenciar o DNA nuclear de vírus há quase cinquenta anos, bem como fazê-lo no caso de humanos desde a virada do século XX para o XXI, e ainda que em 2018 o chinês He Jiankui tenha anunciado o nascimento de bebês geneticamente editados, até hoje faltava uma compreensão maior das mitocôndrias vegetais. A demora deveu-se ao fato de que as moléculas de DNA mitocondrial das plantas são maiores e mais complexas do que as presentes no núcleo — e seu impacto no genoma é em parte ainda desconhecido.
Assim, é difícil prever os efeitos das alterações provocadas por mãos humanas em tal tipo de DNA. A expectativa é, tão somente, aprimorar a agricultura. Existe, porém, a possibilidade de a nova técnica culminar em produtos impróprios para o consumo. Por isso a proeza dos japoneses ainda está em testes. No entanto, pode-se supor que, quando a invenção se tornar comercialmente disponível, derrubará os preços da produção agrícola.
Publicado em VEJA de 17 de julho de 2019, edição nº 2643

Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br