Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Startup quer treinar abelhas para polinizarem café com maior precisão

Usando biomoléculas sintéticas, idênticas ao aroma floral do café, para treinar as abelhas, a PollinTech percebeu aumento de até 18% na produção do grão

Por Elton Alisson | Agência FAPESP
26 jan 2023, 16h11
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Assim como os cães, as abelhas podem ser treinadas para desempenhar tarefas de farejamento, como reconhecer com precisão a fragrância de culturas agrícolas de interesse econômico, como o café (Coffea arabica), e, dessa forma, polinizá-las com maior eficácia. Isso porque esses insetos polinizadores têm capacidade de desenvolver memória olfativa, associando o ambiente onde coletam o pólen e o néctar de flores que lhes servem de alimento ao cheiro deles, explica o ecólogo João Marcelo Robazzi.

    “As abelhas usam sinais, como a cor e a fragrância, para encontrar e, consequentemente, polinizar flores. Esses sinais podem ser empregados para treiná-las em laboratório de modo que possam reconhecer mais facilmente culturas agrícolas-alvo quando suas colônias forem liberadas em lavouras e realizar a polinização de forma mais eficiente”, afirma o pesquisador, especialista em treinamento de abelhas.

    Com base nessas constatações, corroboradas durante seu doutorado em ecologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em neurociências na Université Paul Sabatier, em Toulouse, na França, Robazzi fundou em parceria com Marcela Barbosa, doutora em entomologia pela Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (USP), e Maria Imaculada Zucchi, professora da Unicamp e pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA), Polo Piracicaba, uma startup, batizada de PollinTech, voltada a melhorar a precisão da polinização do café por abelhas africanizadas (Apis mellifera), por meio do odor.

    “O objetivo dessa estratégia de polinização guiada pelo odor é aumentar não só a produtividade como também a qualidade dos grãos de café”, explica Robazzi.

    Continua após a publicidade

    Para treinar as abelhas, os pesquisadores têm desenvolvido com apoio da FAPESP biomoléculas sintéticas, obtidas de misturas de odores artificiais, que são percebidas pelos insetos polinizadores como o aroma floral natural do café.

    Por meio da síntese e o treinamento das abelhas com essas biomoléculas que imitam o odor da flor do café, os pesquisadores esperam obter um aumento de mais de 18% na produção do grão.

    “Já desenvolvemos uma solução que imita a fragrância da flor de café, na percepção das abelhas. Isso nos permitirá treiná-las em laboratório de modo que encontrem mais facilmente essa cultura-alvo no campo e, com isso, possa ser aumentada a taxa de polinização e, consequentemente, a produção do café e a qualidade dos frutos”, diz Robazzi.

    Continua após a publicidade

    Resultados preliminares de experimentos em laboratório indicaram que as abelhas não perceberam diferenças entre a solução sintética e o aroma natural da flor do café.

    “As abelhas identificaram nossa mistura como o odor da flor natural. Ao serem expostas a essa biomolécula sintética em laboratório, elas saberão qual cheiro deverão procurar quando forem liberadas em campo. Dessa forma, os eventos de polinização deverão ser maiores”, diz Barbosa.

    Estudos conduzidos em outros países têm mostrado que as abelhas ao serem treinadas com produtos sintéticos favorecem o aumento da produção de girassol em 57%.

    Continua após a publicidade

    Baixa conscientização da importância

    De acordo com dados da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), cerca de 90% das culturas agrícolas produzidas em todo o mundo dependem, em algum grau, de polinizadores. As abelhas são responsáveis pela polinização de 75% do total de plantas cultivadas e utilizadas de forma direta ou indireta em todo o mundo.

    No Brasil, o valor da polinização para a produção de alimentos é estimado em R$ 43 bilhões anuais. Das 191 culturas agrícolas cultivadas no país revertidas em alimentos 114 dependem da ação de polinizadores, sendo que o café representa 12% desse valor (R$ 5,6 bilhões).

    Continua após a publicidade

    “Estudos indicam que os polinizadores aumentam, em média, 18% a produção do café. Isso se reflete não só na quantidade, como também na qualidade dos frutos gerados e do produto final. Alguns trabalhos mostram que a polinização pode também incrementar algumas características sensoriais da bebida”, diz Barbosa.

    A despeito desses benefícios, os pesquisadores constataram ao participar do 22º Programa PIPE em Empreendedorismo de Alta Tecnologia (PIPE Empreendedor) que os cafeicultores brasileiros ainda não conhecem ou não entendem o papel da polinização na produção do café.

    “Acreditamos que, no futuro, a comercialização da solução que desenvolvemos deve envolver um trabalho de conscientização e aprendizado por parte dos nossos clientes sobre a importância da polinização na cafeicultura”, afirma Robazzi.

    Continua após a publicidade

    As entrevistas com potenciais clientes para avaliar a viabilidade de negócio feitas durante o treinamento também indicaram que os produtores de cafés especiais são os maiores interessados, inicialmente, pela solução.

    “Vemos o segmento de cafés especiais como um mercado inicial, embora nossa tecnologia tenha escalabilidade para os demais produtores, principalmente para aqueles que estão fazendo a transição para a agricultura regenerativa”, disse Barbosa durante palestra no encerramento da 22ª edição do treinamento, em 7 de dezembro do ano passado.

    A ideia dos pesquisadores, agora, é testar a solução em campo e expandir sua aplicação para outras culturas de importância agrícola, como a laranja, o abacate e o açaí.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.