O sistema ABO de grupos sanguíneos, encontrado nos seres humanos, apareceu pela primeira vez há milhões de anos, em um ancestral comum entre homens e primatas. É o que mostra um estudo desenvolvido na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. A pesquisa, publicada na edição online do periódico científico Proceedings of the Nacional Academy of Sciences (PNAS), mostra que os aminoácidos responsáveis pelas diferenças de tipo sanguíneo são idênticos em humanos, orangotangos, gibões, babuínos e primatas do gênero Macaca, conhecidos como macacos do Velho Mundo por serem nativos da África e da Ásia.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: The ABO blood group is a trans-species polymorphism in primates
Onde foi divulgada: Proceedings of the Nacional Academy of Sciences of the United States of America (PNAS)
Quem fez: Laure Ségurel, Emma E. Thompsona,Timothée Flutrea,Jessica Lovstada, Aarti Venkata, Susan W. Margulisd,Jill Moysed, Steve Rossd, Kathryn Gambled, Guy Sellae, Carole Obera e Molly Przeworski
Instituição: Universidade de Chicago
Resultado: Os tipos sanguíneos do grupo ABO, presente nos seres humanos e outros primatas, foram encontrados pela primeira vez em um antecessor em comum. Essa conclusão refuta a hipótese de que os grupos sanguíneos teriam evoluído paralelamente em casa espécie.
Para realizar a pesquisa, os autores analisaram informações genéticas de diversas espécies de primatas. A conclusão encontrada foi que os tipos sanguíneos apareceram pela primeira vez em um antecessor em comum, há milhões de anos, e são resultantes de um polimorfismo mantido entre diferentes espécies. Essa teoria se opõe à hipótese que costuma ser defendida pela maioria dos pesquisadores, de que os tipos sanguíneos evoluíram de forma independente, mas convergente, nas diversas espécies de primatas que compartilham essa característica.
“O número de diferenças genéticas (mutações) entre indivíduos do tipo A e do tipo B é muito elevada, o que indica que a origem desse polimorfismo é muito antiga”, disse Laure Ségurel, pesquisadora da Universidade de Chicago, ao site de VEJA. Ela explica que as mutações ocorrem em intervalos mais ou menos constantes e por isso podem ser utilizadas como medida de tempo. De acordo com Ségurel, outra evidência que confirma a hipótese do ancestral comum é o fato de que, na região do genoma responsável pela definição do tipo sanguíneo, um humano de tipo A é geneticamente mais parecido com um gibão de tipo A do que com um humano de tipo B.
Tipos sanguíneos – Os dois sistemas de grupos sanguíneos mais conhecidos são o ABO (que contém os quatro tipos sanguíneos encontrados nos humanos: A, B, AB e O) e o Rh (que determina se o sangue é positivo ou negativo). Mas, de acordo com Mariza Mota, hemoterapeuta do Hospital Albert Einstein, existem 33 grupos sanguíneos identificados cientificamente.
A importância principal dos grupos sanguíneos está relacionada à medicina transfusional, ou seja, para realizar transfusões de sangue. Além disso, Mariza Mota explica que eles são utilizados na medicina forense e como marcadores antropológicos, ajudando a identificar migrações dos seres humanos ancestrais. “O fator sanguíneo Diego, por exemplo, auxiliou na identificação da migração de indivíduos asiáticos para a América”, diz Mariza.
Saiba mais
POLIMORFISMO
Pode ser explicado como o fato de existirem genes diferentes para ocupar um mesmo lugar, ou seja, variações no DNA que ocorrem de forma estável em uma população. Os tipos sanguíneos são um exemplo de polimorfismo, pois existem quatro opções dentro do sistema ABO (A, B AB e O), de modo que cada pessoa apresenta uma delas.
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