Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

“Tudo que amamos vai mudar”, diz autor de livro sobre mudança climática

David Wallace-Wells conversou com VEJA sobre os perigos e os impactos do aquecimento global

Por Sabrina Brito 8 ago 2019, 15h48

Não é difícil coletar evidências de que a Terra está passando por um severo aquecimento global. Enquanto a Europa atravessa uma das mais intensas ondas de calor de sua história, agravada pela ação humana, países como o Brasil e os Estados Unidos discutem a necessidade de políticas que protegem o meio ambiente. Temas relacionados ao estado da natureza estão cada vez mais em debate.

No último mês, o jornalista norte-americano David Wallace-Wells, editor da New York Magazine, lançou o livro “A terra inabitável: Uma história do futuro“, onde explora a extensão dos danos ao meio ambiente e a urgência de se agir em prol da natureza como forma de tentar minimizar uma verdadeira catástrofe climática. O livro se tornou best-seller na lista do New York Times. Em conversa com VEJA, o autor discorreu sobre o assunto e opinou sobre a importância do tema.

De acordo com Wallace-Wells, o homem ignorou a mudança climática por tempo demais. Parte disso, diz ele, se deve à ação da imprensa, que tende a comentar o tópico de modo excessivamente otimista, dando ao público uma ideia errônea da severidade do problema. Segundo o autor, cabe à mídia mudar esse tipo de comportamento. “O principal é que a imprensa simplesmente conte a verdade sobre o que está acontecendo ao meio ambiente. Durante muito tempo, jornalistas relutaram em falar sobre o clima porque achavam o assunto entediante, pensavam que o público não estaria interessado. Mas é nosso trabalho contar toda essa história honestamente”, afirma.

David acredita que haja muitos outros motivos por trás da demora em encararmos os fatos. Para ele, a novidade do assunto tem um papel importante nesse aspecto. “A mudança climática ainda é algo relativamente recente. Os primeiros avisos sobre o aquecimento começaram a ser feitos no fim da década de 80. Uma verdadeira mudança de perspectiva pode demorar mais do que 40 anos para se infiltrar em nossos pensamentos e hábitos”, opina.

Continua após a publicidade

Ainda assim, as coisas podem estar prestes a se transformar. De acordo com o jornalista, tudo está se alterando muito rapidamente. Desde 1980, já fizemos mais dano à atmosfera do que em qualquer época antes disso”, informa. “Acho que os políticos estão começando a perceber que os efeitos da mudança climática não virão apenas a longo prazo. Espero que nossos líderes se atentem a isso.” 

A esses fatores, soma-se outro igualmente importante: a reação humana ao aquecimento do planeta. Segundo Wallace-Wells, nós possuímos uma espécie de viés cognitivo que nos impede de agir diretamente a favor da natureza. “Vivemos em negação”, opina. E, quando o assunto é a luta pelo equilíbrio no meio ambiente, esse tipo de comportamento nos desacelera.

Continua após a publicidade

Para além da negação involuntária pela qual todos passamos, há aqueles que se recusam a acreditar que a mudança climática sequer exista. Seguindo tendências negacionistas, — como aquelas observadas em indivíduos terraplanistas ou anti-vacinas — essas pessoas afirmam que o aquecimento global é um mito. Mas David diz que não devemos nos importar com isso. “O problema do obscurantismo quanto a esse tema é menor do que costumamos pensar. Quando fazemos pesquisas, vemos que a grande maioria do mundo sabe que a mudança climática está acontecendo. Se 20% ou 30% não acredita nela, o problema não é tão grande quanto o fato de que quase ninguém está tão preocupado quanto deveria. Fazer com que os conscientes tomem uma atitude é mais importante do que educar os que não acreditam no aquecimento”, comenta.

Entre aqueles que desprezam as mudanças climáticas estão grandes nomes da geopolítica mundial, a exemplo do presidente norte-americano Donald Trump e de Jair Bolsonaro. “Eu categorizaria esses dois como pessoas que preferem agir mais devagar do que outras nações em relação ao meio ambiente. Eles não negam a mudança em si, mas se sentem mais motivados por outros interesses, como o lucro. Não veem o clima como um problema grande o suficiente para ser sua prioridade, o que é muito preocupante. De certa forma, Trump e Bolsonaro podem representar sinais iniciais de uma nova política, que prega a inação ambiental”, opina Wallace-Wells.

Apesar dos muitos motivos para pessimismo, o autor enxerga uma grande chance de sobrevivência para a espécie humana. “Acho que nós nos adaptaremos. Nossa civilização e nossa biologia são muito adaptáveis. Mas as condições nas quais viveremos serão absurdamente diferentes. Tudo se transformará traumaticamente. Os impactos em outras espécies serão mais dramáticos ainda, já que a maioria deles é muito menos adaptável do que nós”, diz. “Tudo que conhecemos será alterado e, em muitos casos, destruído. E é isso que mais me assusta: o fato de que tudo que conheço está sob ameaça. Isso nos chama à ação. Tudo que amamos vai mudar.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.