Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Viadutos verdes

Estrada fluminense abrigará primeiro elevado dedicado exclusivamente ao trânsito de espécies da Mata Atlântica. A ideia pode ser replicada em outros biomas

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h11 - Publicado em 7 dez 2018, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A BR-101, rodovia que se estende por 4 772 quilômetros, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, servirá de laboratório para um projeto sustentável inovador. No próximo ano, um trecho dela — a partir do quilômetro 218, no Estado do Rio de Janeiro, entre os municípios de Casimiro de Abreu e Rio Bonito — deve ganhar um viaduto nada usual. Em lugar de servir aos automóveis dirigidos por seres humanos — ou, vá lá, no futuro, por algum tipo de inteligência artificial —, ele será usado por animais silvestres. As obras do chamado “viaduto vegetado”, sob responsabilidade da concessionária Arteris Fluminense, começaram neste ano. A estrutura verde tem o objetivo de funcionar como passagem para exemplares da fauna da Mata Atlântica, que hoje têm de enfrentar o movimento dos carros, ônibus e caminhões na hora de passar de um lado da estrada para o outro. Nos últimos dez anos, ao menos 3 200 bichos das mais variadas espécies — algumas exclusivas daquela área — foram vítimas de atropelamentos na região. Com a iniciativa, esti­ma-se que sejam salvos, anualmente, cerca de 320 animais.

    A novidade foi inspirada em experiências internacionais. Os primeiros viadutos vegetados surgiram na França na década de 50. Hoje, a Holanda é referência no assunto, com cerca de cinquenta dessas estruturas espalhadas pelo país e outras planejadas para os próximos anos. Há também viadutos desse tipo em nações como a Austrália, onde existe até mesmo uma estrutura construída tão somente para a travessia de caranguejos, e o Canadá, que ergueu a famosa passarela do Parque Nacional Banff, dedicada ao trânsito de mamíferos de grande porte, como os ursos, por exemplo.

    O Brasil, país detentor da maior biodiversidade do planeta, ainda não conta com um elevado dessa modalidade. O viaduto da BR-101 foi uma das exigências do licenciamento ambiental pelos órgãos ICMBio e Ibama, reforçada por uma ação judicial. Em 2016, o Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública determinando que o viaduto vegetado fosse construído por causa das obras da Arteris na rodovia. De início, impunha-se a criação de quatro estruturas do gênero. Depois de negociações, encerradas no início do ano passado, chegou-se ao consenso que levou ao projeto em andamento. Estão previstas também quinze passagens subterrâneas e dez passarelas mais simples — todas destinadas a animais. “Encontramos uma solução que atendeu a todas as demandas”, diz o gerente de meio ambiente da Arteris Fluminense, Marcello Guerreiro. No total, o valor investido deve chegar a 52 milhões de reais. A despesa pode ser compensada com o aumento do pedágio na estrada.

    Continua após a publicidade

    Cogita-se, para o caso de a proposta dar certo — não se sabe se as espécies vão se adaptar ao elevado e se realmente o atravessarão —, a construção de um segundo viaduto vegetado na mesma BR-101, no prazo de uma década. Em teoria, qualquer espécie terrestre da Mata Atlântica poderá se beneficiar da passagem. Contudo, espera-se que os principais favorecidos sejam os micos-leões-dourados. À margem da rodovia está a Reserva Biológica de Poço das Antas, criada em 1974, na qual a Associação Mico-Leão-Dourado atua desde 1992. O primeiro programa de conservação desses simpáticos bichinhos começou ali em 1970, quando restavam apenas 200 exemplares da espécie na natureza. Hoje, há 3 200 micos na floresta. Além deles, símbolos da Mata Atlântica, outros animais do bioma, como a preguiça-de-coleira e a onça-parda, correm por lá o risco de atropelamento. Essas espécies precisam de um hábitat extenso para formar grupos e acasalar-se com indivíduos de outras populações, garantindo assim a variabilidade genética. A abertura do viaduto também visa a facilitar tal processo.

    “Só devemos sentir os resultados a longo prazo, mas já é uma vitória, pois a iniciativa poderá servir de motivação para que esse modelo de viaduto seja replicado na Mata Atlântica e em outros biomas”, afirma o secretário executivo da Associação Mico-Leão-­Dourado, Luís Paulo Ferraz. De acordo com dados do Sistema Urubu, rede que coleta informações sobre a fauna brasileira, 475 milhões de animais selvagens são atropelados por ano em todo o país. Os mais ameaçados são os de pequeno porte, como os anfíbios e roedores, que representam 90% do total. Os viadutos verdes, repletos de flora e fauna local, poderiam levar à diminuição desse assombroso número de mortes.

    Publicado em VEJA de 12 de dezembro de 2018, edição nº 2612

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.