O Zoológico de São Paulo acaba de inaugurar um novo espaço dedicado à arara-azul-de-lear, permitindo pela primeira vez que o público observe de perto esta espécie ameaçada de extinção. Em entrevista a VEJA, Fernanda Vaz, bióloga chefe do setor de aves, compartilhou detalhes sobre a importância desta iniciativa e o trabalho de conservação realizado pela instituição.
A arara-azul-de-lear é uma das três espécies de araras azuis encontradas no Brasil, sendo endêmica da região da Caatinga baiana. Atualmente, a população em vida livre é estimada em cerca de 2.200 indivíduos, o que a coloca na categoria “em perigo de extinção”, segundo a classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Fernanda Vaz explica que o Zoológico de São Paulo trabalha com esta espécie há mais de 35 anos, participando de um programa internacional de conservação. Atualmente, existe uma população de aproximadamente 130 aves sob cuidados humanos em diversos zoológicos e criadouros ao redor do mundo, todas fazendo parte deste esforço conjunto de conservação.
Reprodução e reintrodução
Um marco importante para o programa de conservação ocorreu em 2015, quando o Zoológico de São Paulo conseguiu o primeiro nascimento da espécie sob cuidados humanos no Brasil. Desde então, 19 araras-azuis-de-lear já nasceram na instituição.
O sucesso do programa de reprodução permitiu que cinco indivíduos nascidos no zoológico fossem destinados ao Programa de Revigoramento Populacional no Boqueirão da Onça, na Bahia. Estas aves, segundo Vaz, “hoje estão voando na Caatinga Baiana”, demonstrando o impacto direto do trabalho do zoológico na conservação da espécie em seu habitat natural.
O novo espaço e seus habitantes
No ambiente, construído especialmente para as aves, há quatro araras-azuis-de-lear: Felipe, Luca, Antonio e Benjamin, que têm entre 6 e 8 anos, e são filhos de Maria Clara e Francisco, pais também de Teobaldo, primeiro indivíduo nascido em um Zoo na América Latina, em 2015.
Vaz ressalta que esta não é necessariamente uma situação permanente, pois há planos para formar casais com estes indivíduos no futuro, possivelmente trazendo fêmeas de outros mantenedores, inclusive de fora do Brasil.
Importância da exposição ao público
A decisão de expor as araras-azuis-de-lear ao público é crucial para a missão de conservação do zoológico. Vaz explica que muitas pessoas perguntavam como poderiam ver a espécie, e a instituição reconhece a importância do contato direto para a sensibilização do público.
“Se o público não vê, se as pessoas não conhecem, vai ser difícil para entender, para perceber o que é conservação”, afirma Vaz. A exposição permite que o zoológico divulgue, através da educação ambiental, as ações de conservação realizadas para esta espécie.
Perspectivas futuras
O Zoológico de São Paulo continua trabalhando para aumentar a população sob cuidados humanos, visando dobrar ou triplicar o número atual de 130 indivíduos sob cuidados humanos. Esta “população de segurança” é crucial para garantir a sobrevivência da espécie em caso de catástrofes ambientais ou outros eventos que possam afetar a população selvagem.
A inauguração deste novo espaço não apenas permite que o público conheça de perto esta espécie rara e ameaçada, mas também serve como uma plataforma para educar e conscientizar sobre a importância da conservação da biodiversidade brasileira.