Um acontecimento de 1924…
Se você chegou até aqui, a essa altura do campeonato, deve estar cansado de ouvir a trilha de abertura do premiadíssimo filme Carruagens de Fogo, de 1981. Está nos programas de televisão e rádio, nos podcasts, aqui mesmo em VEJA. O empolgante tema instrumental do grego Evángelos Odysséas Papathanassiu, o Vangelis, tocado nos créditos iniciais da fita, virou sinônimo de corrida – pã-pã-pã-pã-pã-pã, pã-pã-pã-pã-pã… Na abertura dos Jogos de 2012, em Londres, o impagável Mr. Bean fez troça com a peça, rindo de seu minimalismo transformado em lugar-comum. Mas justiça seja feita, porque agora em Paris vale, sim. O longa trata de um evento da Olimpíada de 1924 – cabe executar a toada, e cabe também neste blog. Carruagens de Fogo, enfim, é um drama, uma odisseia, em torno de dois personagens do esporte.
O britânico Eric Liddell, ao descobrir que a final dos 100 metros rasos, sua prova predileta, cairia em um domingo, recusou-se a disputá-la, dado suas convicções religiosas presbiterianas. Mas participou dos 400 metros, com medalha de ouro e recorde olímpico que duraria doze anos. O conterrâneo Harold Abrahams, de formação judaica, vítima de antissemitismo mal dissimulado, é quem correria os 100 metros, com direito ao primeiro lugar no pódio. Uma dica: vale a pena assistir ou rever Carruagens de Fogo.
… e um de agora
Bem, os 100 metros serão neste domingo, e não há notícia, em 2024, de atleta que tenha alegado objeção de consciência para não entrar na pista, como fez Liddell. A mais clássica das provas vive um interregno depois do domínio de Usain Bolt em 2008, 2012 e 2016. Na Olimpíada de Tóquio, o vencedor foi o italiano Marcell Jacobs, uma surpresa. Agora em Paris busca-se o novo homem mais rápido do mundo, o herdeiro de Abrahams, lá em 1924. Quem? Uma boa aposta é o americano Noah Lyles, bronze nos 200 metros de 2021. Figura interessante, ele compra brigas como compraram Liddell e Abrahams há 100 anos. No fim de 2023, em meio a uma disputa internacional de atletismo, ele fez barulho ao questionar o modo como os campeões da NBA se autointitulam “campeões mundiais” ao vencerem o torneio da liga americana de basquete. “Campeão mundial do quê? Dos Estados Unidos? Não me interpretem mal, às vezes adoro os Estados Unidos, mas isso não é o mundo. Nós somos o mundo. Temos quase todos os países aqui lutando, prosperando, colocando sua bandeira para mostrar que estão representados. Não há bandeiras na NBA.” É briga que daria um filme. Pã-pã-pã-pã-pã-pã, pã-pã-pã-pã-pã…
No episódio de quarta-feira, 7 de agosto, a revolução de Coco Chanel que chegou até a Place de La Concorde de 2024