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A Origem dos Bytes

Por Filipe Vilicic Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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A internet está quebrada. E isso tem tudo a ver com a nova onda de censura

Benefícios da web ainda incomodam quem está no poder. Qual é a reação deles? Usar a própria rede para reprimir, calar, nomes como Danilo Gentili e a Crusoé

Por Filipe Vilicic Atualizado em 18 abr 2019, 17h12 - Publicado em 18 abr 2019, 17h02

Qual foi a intenção inicial da criação da internet? Espalhar vídeos de gatinhos e bebês? Servir de plataforma para youtubers? Permitir que eu e você compartilhemos fotos do que comemos no jantar de ontem? Tornar-se espaço para que se xingue e humilhe aquele com o qual não se concorda? Evidentemente, nada disso.

Quando o físico Tim Berners-Lee criou a base da rede tal qual conhecemos, em 1989, a intenção dele não era ganhar rios de dinheiro com isso (tanto que escolheu não patentear a invenção), muito menos abrir portas para que um dia todos nós pudéssemos levar o álbum de família para o Instagram – e as desavenças de família para o Twitter. Berners-Lee era, e ainda é, um gênio de visões quase utópicas.

O sonho era – e ainda é – o de conectar as pessoas do mundo, em especial para que elas compartilhassem conhecimento e, assim, promovessem o iluminismo, a paz, os direitos humanos, a ciência, o conhecimento, a razão, a diplomacia, a igualdade, a diversidade. Sim, sei bem que quando você e eu entramos no Twitter, nenhuma dessas características têm se sobressaído.

E quem acha isso é o próprio Tim Berners-Lee, com quem já conversamos mais de uma vez aqui em VEJA. Confira uns trechos da carta que ele escreveu ao comemorar os 30 anos de sua criação máxima:

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“Frente à repercussão das notícias de como a rede tem sido mal usada, é compreensível que muitas pessoas sintam medo e insegurança em relação a se a rede é mesmo uma força do bem”

“Há consequências negativas do design benevolente (da internet), como o enraivecido e polarizado tom e a qualidade (falta de) do discurso online”

Mas ele também é otimista, dizendo como, por exemplo, “governos devem assegura (…que a internet) continue competitiva, inovadora e aberta” e que “é nossa jornada da adolescência digital para a maturidade, para um futuro responsável e inclusivo”.

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Fala bonita. Todavia, o fato é que a internet está quebrada.

A tecnologia ainda traz vantagens enormes, bem maiores que as desvantagens. Em relação à liberdade de expressão, ao fomento da democracia, ao incentivo à inovação, à facilidade de comunicação e colaboração entre indivíduos etc. Porém, com isso teve início também uma era de notícias falsas, de desinformação, de obscurantismo (bem contrário ao iluminismo proposto por Berners-Lee) em um patamar tamanho que se chega a existir (e com certo barulho) um movimento que defende que a Terra é plana.

Outro efeito aterrorizante é como a plataforma que promove a democracia e a liberdade de expressão tem sido usada, em paralelo, como mecanismo de ódio, repressão e censura. A lógica é a seguinte.

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Primeiro, a internet deu voz a todos. Surgiram youtubers, tuiteiros, os influencers. E como deu voz a todos! Tipo o Danilo Gentili.

O que permitiu também que youtubers se transformassem em importantes formadores de opinião. E sites, como o Antagonista, ou o da revista digital Crusoé, surgissem, ganhassem enorme público e se fortalecessem. Em caminhos que em passado recente só seria possível a grandes magnatas.

No entanto, aí surgiram os incomodados. No geral, aqueles que sempre estiveram no poder – juízes e políticos, nos últimos dias – e que se incomodam com o que parecem considerar uma democracia em demasia. Nota-se que esses têm se perguntado questões como: “Como pode aquele ali xingar o presidente?”; “Acredita que criticaram um juiz do STF?”; ou, na extensão disso tudo, o velho “Sabe com quem cê tá falando?”, em versão digitalizada – e cada vez menos efetiva.

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O que fizeram os incomodados pela democratização do, digamos assim – e usando termo bem popularizado (e vulgarizado) nesses dias –, lugar de fala? Mais do que isso, do lugar de poder.

Começaram a usar as ferramentas de imposição que ainda possuem em mãos para atacar a internet. Pior: usando para isso os mesmos mecanismos elaborados por Tim Berners-Lee, e justamente para, passados os 30 anos, fazer o oposto do que este sonhava. Nisso, se falaram de mal de algum “Sabe com quem cê tá falando?”, logo se utilizam de ferramentas de localização, rastreamento, exposição, da própria web para perseguirem e censurarem quem os incomoda.

Assim acabam por decretar a prisão de humoristas – e espero que o Brasil não culmine por se tornar um daqueles países retratados na ótima série documental “Dangerous World of Comedy“, de Larry Charles. Esses ainda se apoiam no fato de que na internet, não impressa, tudo pode ser criado, e logo depois deletado, para promover (e só num por exemplo) censura a sites noticiosos.

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A internet está quebrada. Mas há tempo para consertá-la.

Uma prova disso é que praticamente todos os empreendedores – brasileiros e estrangeiros – com quem falei no evento Brazil at Silicon Valley, que ocorreu semana passada na Califórnia (EUA), apresentavam um consenso. Algo na linha: “Ocorra o que ocorrer, governos, e quem sempre esteve lá em cima, podem tentar limitar, proibir, censurar as inovações digitais (dentre elas, tudo que foi tratado acima). Mas, no fim, eles perdem para o progresso e diante da pressão daqueles que querem progredir”.

Leia também
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*** Em tempo: compreenda que tudo que foi tratado acima se diz respeito ao que se fala de figuras públicas, políticos, governos, de ideologias e afins na internet. O que é bem diferente (e aí, em muitas situações, crime explícito): por exemplo, um famoso da web abusar de seu poder recém-adquirido para humilhar, e acabar com a vida, de um anônimo qualquer com quem ele não foi com a cara na rua.

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