Em reportagem de VEJA desta semana – nas bancas! –, escrevi sobre como o fim da típica entrada para fones de ouvido do iPhone mostra como a Apple quer antever um futuro no qual não teremos mais de lidar com uma penca de emaranhados de cabos de eletrônicos em casa… sim, é o fim do fio! Entretanto, muitos consumidores reclamaram da iniciativa – assim como, na virada para esta década de 2010, se queixavam do fim do drive de CD-ROM de Macs (depois, todo mundo se adaptou).
Agora, indo além da proposta de desenhar um futuro sem cabos, o que, em curto prazo, a Apple quer com o extermínio do fio dos fones? Resumo em 2 pontos:
1º
Há o objetivo comercial. A Apple sabe que demorará para os clientes se adaptarem à novidade. Tanto que, junto com o iPhone 7, vem fones de ouvido com cabo! Como assim? A entrada usada seria a mesma do carregador. O “porém” é que se necessita de um adaptador para os fones tradicionais. Além disso, é bem desconfortável andar por aí com um acessório pendurado na parte inferior da carcaça do smartphone. Em outras palavras, essa alternativa é mais um afago em quem ficou irritado com a mudança. A mensagem real é que, para a Apple, esse é o início do fim dos fios.
Pelo ponto de vista de negócios, a tática é clara: em curto prazo, a Apple quer vender seus novos AirPods, os fones sem fio para iPhone 7 (que, contudo, têm de ser adquiridos separadamente). Em médio, é uma boa forma de promover os produtos da Beats, marca de propriedade da empresa, em muito baseados na tecnologia wireless (principalmente, nas versões mais caras desses dispositivos).
Mais que isso, trata-se ainda de uma maneira de dar início a uma integração maior, por wi-fi e bluetooth, de todos os produtos Apple. Ao incutir o hábito de ativar os recursos wireless, a companhia pode instigar as pessoas a usufruir da tecnologia para se conectar com outras ferramentas, a exemplo do software CarPlay (da Apple, claro), lançado em 2014 – com pouco sucesso até agora – e desenhado para tornar automóveis, como se diz na indústria da tecnologia, smart (ou seja, integrados a smartphones, tablets e seus aplicativos).
2º
Além de antever como serão os gadgets do futuro próximo, há outra razão, digamos, tecnológica para a estratégia da marca. Ao se eliminar a entrada para fones, livra-se espaço no hardware para aumentar o chip de processamento, o HD etc. Isso sem precisar engrossar o aparelho.
Será que, mais uma vez, a Apple conseguirá prever os desejos dos clientes (antes mesmo que eles saibam que querem algo), que deixarão de se queixar da manobra – quiçá, passar a elogiá-la? Ou essa é uma bola fora da gigante da maçã, que vem apresentando lucros decrescentes no último ano?
Antes de morrer, em 2011, Steve Jobs, o genial fundador da Apple (como sabemos, evidentemente), não gostava muito da ideia de fones sem fio. Frente a essa possibilidade, ele questionou: “Você realmente quer outra coisa para carregar?”. E ele não estava falando de guardar na bolsa, diga-se. Ao que se referia: a energia dos acessórios wireless só aguenta umas poucas horas e, depois disso, tem de ser colocada na tomada, ou, veja só, conectada por um fio ao tocador de música, ao smartphone, ao tablet. Será que Jobs estava errado ao supor que a resposta para sua pergunta seria “não”?
Pelo sim, pelo não, é óbvio que isso não quer dizer que, hoje, ele continuaria a concordar com sua indagação. Jobs era tão conhecido por prever o que queriam as pessoas quanto por mudar de opinião conforme se transformam, também, as vontades dos consumidores.
Em tempo: não gostei do design do iPhone 7 e falo sobre isso neste link. Além disso, ao leitor que já quer adquirir um novo aparelho, repito o que afirmei no ano passado sobre os lançamentos anuais de novos iPhones: Não troque seu iPhone (ainda).
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