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A Origem dos Bytes

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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Será que seu ídolo tem tantos seguidores quanto diz ter?

Num papo com youtubers, a partir de reportagem do The New York Times, flagramos celebridades que pagam para fingir que possuem fãs

Por Filipe Vilicic Atualizado em 22 fev 2018, 16h51 - Publicado em 22 fev 2018, 16h51
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  • Tive um papo divertido outro dia com três youtubers, e que depois se estendeu a outros desses tipos de celebridades online. A conversa era informal, e envolveu nomes de famosos que também são colegas, por vezes amigos, dos envolvidos. Por isso não revelarei quem estava presente. Mas só o teor da prosa, por si só, já vale o texto.

    Naquela manhã de domingo, segui meu costume e li os jornais aos quais recorro todos os dias. Dentre eles, o americano The New York Times (NYTimes). Nele, deparei-me com uma reportagem de título A Fábrica de Seguidores. No link, caso saiba inglês, é possível lê-la. Resumo bem rapidamente o ótimo trabalho: o NYTimes flagrou uma série de celebridades, de atores de Hollywood e políticos a profissionais da indústria pornô, que compram seguidores em redes sociais como o Twitter e acessos a posts e vídeos em sites como o YouTube. Indo além, a reportagem revelou como funciona uma das maiores empresas do ramo de vendas de fãs, que dizia ter sede em Nova York, o que se tratou de uma mentira. Aliás, para uma companhia que vende mentiras, o mais natural era mesmo que tudo ao seu redor também se tratasse de mentira.

    Enquanto lia a matéria, ia para o encontro com os youtubers citados. Ao chegar, questionei: “Viram essa reportagem?”. E, em tom de sarro: “Vocês compram seguidores e views também?”. Claro que todos negaram serem adeptos da prática. E tudo indica que não eram, mesmo – já explico, mas é fácil sacar se um de seus ídolos adota o expediente imoral. Só que, indo além, começamos a conversar como alguns famosos brasileiros, em especial os autointitulados “influenciadores digitais”, compram fãs.

    Concluímos, antes de tudo, algo óbvio: a imoralidade de se fazer isso. Antes de tudo, a dita celebridade está se enganando, claro, ao seguir com essa rotina. Diz, para o mundo, e para si mesmo, que é ultrapopular, com X milhões de fãs. Quando, na verdade, só tem um punhado de fiéis. É não só vergonhoso, como possível indicativo que tal indivíduo pode sofrer de sérios problemas psicológicos.

    No entanto, a questão se agrava quando toma sua real dimensão. Os compradores de fãs ludibriam, também, seus próprios fãs. Não os fantasmas adquiridos com alguma duvidosa empresa americana, chinesa ou do Leste Europeu (há também umas no Brasil, evidentemente). Mas, sim, os admiradores verdadeiros, que saem por aí contando, todos orgulhosos, que o youtuber, o instagramer, o “…” (“…” deve ser substituído por qualquer novo termo criado para designar a celebridade de algum tipo de rede social), que curtem já ultrapassou o número X de seguidores sei lá onde. Nisso, espalha-se a falácia, alimentando um ambiente virtual já demasiadamente tomado por fofocas, fake news, enganações etc.

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    E não só isso. Esses famosos caçadores de fãs-fantasmas também iludem anunciantes, patrocinadores ou mesmo quem os contrata para dar um tchauzinho num evento qualquer. Isso porque, quando vendem uma propaganda, ou o que for, ligada à própria fama, a moeda de troca sempre é o número de fãs que os seguem nas redes sociais. Um fulano com 10 mil seguidores ganha menos, por esses trabalhos, que um com 100 mil, que lucra menos que um com 1 milhão, e por aí vai. Ao jurarem, antes de fechar um negócio do tipo, que possuem X fãs, quando na real eles têm X-Y (sendo Y a quantidade de fantasmas adquiridos), cometem estelionato.

    Como tanta gente cai na ladainha desses falsos famosos (ou menos famosos do que dizem ser)? Pois quase ninguém se dá ao trabalho de checar se são mesmo verdadeiros os seguidores de tais 171 virtuais; assim como, por exemplo, pouquíssimos conferem aqueles termos de uso / serviço antes de entrar pela primeira vez num Facebook ou num Google. A tática, logo, vira eficiente pelo ponto de vista daquele que quer a fama (e o dinheiro proveniente da mesma) a qualquer custo.

    Do lado de quem compra, há uma desculpa que ouvi de uma agente de uma atriz brasileira que admitiu, mas em “off”, ter aderido à estratégia da ilusão: “Se não fizer isso, não consegue trabalhos novos, não consegue competir com outros colegas que compram fãs, e tudo vira uma bola de neve que acaba por prejudicar a profissão, o ganha-pão, dela”. Realmente, num jogo de mentirosos, é difícil ser um dos poucos seres honestos à mesa.

    Outros, ainda, correm atrás dos seguidores e dos views falsos para não correrem o risco de serem “desmonetizados” por um site como o YouTube. Motivo: para que anúncios da plataforma sejam ligados a um perfil, muitas vezes é preciso permanecer num patamar mínimo de acessos. Se alguém, como um youtuber, não consegue chegar a essa fronteira, não consegue lucrar, nem 1 real, com o que se propõe a publicar. Por isso, alguns recorrem à manobra de pagar por uns views a mais.

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    Pergunto-me: quando (raios!) passamos a valorizar o trabalho de outrem pela quantidade de pessoas que o cercam, e não pela qualidade, em si, do que produz? É tão difícil notar o quanto essa postura é estúpida?

    De qualquer forma, a verdade é que muitos dos novos ídolos têm feito isso. E como saber se alguém de quem você é fã na real não tem tantos admiradores? É muito fácil.

    O jeito mais simples é checar se o número de fãs bate com a quantidade de interações nas publicações do ídolo. Ou seja, se alguém tem 2 milhões de seguidores no Twitter, soa estranho se um post desse mesmo alguém só conta com 10 curtidas. Pegou? Entretanto, aí pode existir outro problema. Alguns compram até curtidas, views e afins. Como flagar esses, também?

    Não é difícil. Acesse a relação de seguidores do ídolo. Então, confira se a maior parte tem cara de “real”. O NYTimes, por exemplo, identificou muitos fãs-fantasmas dessa forma. Os supostos perfis dos mesmos em uma rede social, como o Twitter, não faziam, digamos assim, sentido.

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    Por exemplo: tinha um com um retrato de uma americana, mas cujos tuítes eram em outras línguas, todas de origem asiática. Um outro estilo típico de fantasma usa só fotos daquelas fáceis de serem achadas no Google. Caso queira ir ainda mais a fundo, pode-se copiar a imagem principal de um perfil possivelmente fantasma e jogá-la na busca do Google. O flagra por vezes ocorre por aparecer múltiplos perfis no Facebook, no Twitter, no Instagram, onde for, com as mesmas fotos. Ou seja, possivelmente elas foram roubadas de uma fonte verdadeira para serem replicadas por contas falsas.

    E aí? Fez o teste com seu ídolo?

    Em meu encontro com os youtubers, e outros profissionais do meio, realizamos a prova com alguns perfis de pessoas públicas. E também falamos de outras celebridades que os presentes garantiram que aderiram à estratégia imoral. Detectamos muitos mentirosos na internet brasileira. Como não os ouvi, para ter o “outro lado”, evitarei ser simplista e sensacionalista, elencando os nomes. Contudo, algumas dicas:

    — há vários apresentadores de TV, de globais àqueles que começaram suas carreiras em reality shows;

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    — tem alguns atores, principalmente os que ainda não decolaram numa novela das 9;

    — muitos, muitos, muitos dos tais “influenciadores digitais”;

    — políticos, políticos e mais políticos;

    — e, da mesma forma que o NYTimes flagrou nos EUA, até mesmo jornalistas e colunistas famosos.

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    Sugiro: faça o teste com seu próprio ídolo. Caso flagre que o mesmo é seguido quase que tão-somente por fantasmas (não vale se for só um ou outro fã falso, em número quase insignificante, pois aí isso costuma se dever a pessoas que querem segui-lo, sem serem identificadas), compartilhe por aí a informação. Com isso, fará, no exagero, um bem público, ou, no mínimo, ajudará a conter um pouco o ambiente cheio de mentirosos da internet.

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