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Alexandre Schwartsman

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Economista, ex-diretor do Banco Central

O rato que ruge

As tarifas serão dolorosas. A retaliação, possivelmente mais

Por Alexandre Schwartsman Atualizado em 25 jul 2025, 14h42 - Publicado em 25 jul 2025, 06h00

Não é simples estimar o efeito da elevação das tarifas americanas sobre a economia brasileira, inclusive porque dependerá de como iremos reagir a elas, matéria que — até onde sabemos — não está pacificada sequer dentro do governo. Alguns números podem dar uma ideia, provavelmente subestimada, dos impactos. Os Estados Unidos são o terceiro maior destino das exportações nacionais (já foram o primeiro), depois de China e União Europeia. Nos doze meses até junho deste ano, atingiram 41,4 bilhões de dólares, ou pouco mais de 12% das vendas ao exterior, valor que corresponde a cerca de 2% do PIB.

A composição das exportações aos Estados Unidos, todavia, difere das exportações em geral. Produtos manufaturados representam 80% das vendas aos país, enquanto, para todas as demais nações, essa proporção mal supera 50%. Assim, o mercado americano absorve a maior parcela da exportação de produtos manufaturados, alcançando 33 bilhões de dólares, ante 22 bilhões de dólares para a União Europeia e 20 bilhões de dólares para a China.

Dito de outra forma: enquanto a exposição total da economia às exportações para os Estados Unidos equivale, como falamos, a cerca de 2% do PIB, a exposição da indústria de transformação é bem maior: algo como 12% do valor adicionado no setor. A primeira conclusão, portanto, é que as tarifas atingem com maior vigor nosso setor industrial.

“A elevação atinge com maior vigor nosso setor industrial. O Brasil só tem a perder com essa luta”

A elevação das tarifas encarece esses produtos no mercado americano e deve provocar queda dos volumes exportados. O efeito das medidas impostas por Trump é incerto, com redução das exportações entre 8% e 25%. Isso provocaria queda da ordem de 2% na indústria de transformação e em torno de 0,3% no PIB.

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Vejam que se trata apenas de uma estimativa dos primeiros efeitos sobre a economia. Não temos condições de modelar como os demais setores reagiriam a isso, nem — como notado — os efeitos que possam se originar de retaliações.

Os impactos sobre a inflação são ambíguos: a queda da atividade tende a reduzi-la (algo como 0,1% ou 0,2% em doze meses). Já o encarecimento do dólar, difícil de prever, atua na direção contrária. Meu palpite é de redução modesta da inflação em relação à trajetória esperada antes das tarifas, mas apenas o tempo dirá. Quanto às retaliações, o cenário é bastante complicado. Os Estados Unidos são mais importantes para nós do que nós para eles. Nossa participação nas importações americanas gira em torno de 1% do total e as exportações americanas para o Brasil têm oscilado em torno de 2% das exportações totais, ou seja, somos irrelevantes em termos do comércio americano.

O investimento direto americano no Brasil de 2001 a 2024 atingiu perto de 180 bilhões de dólares, 18% do total no país. No mesmo período, o investimento direto dos Estados Unidos no resto do mundo acumula 5,3 trilhões de dólares. Vale dizer: representamos uns 3,5% dos investimentos diretos americanos no mundo. É uma luta desigual, em que temos mais a perder. Pode até fazer sentido, do ponto de vista político, rugir na esperança de dividendos eleitorais em 2026, mas não me resta dúvida sobre quem sairia mais machucado nessa pancadaria, por mais estúpida que seja a iniciativa americana.

Publicado em VEJA de 25 de julho de 2025, edição nº 2954

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